quarta-feira, 3 de outubro de 2012



RENASCER

Hoje, pela primeira vez, desde há muito tempo, apeteceu-me escrever algumas linhas sobre a minha vida ultimamente.
Não porque considere que devo publicamente expor o que vou vivendo ou sentido, mas porque por vários motivos e vicissitudes a minha vida alterou-se quase na sua totalidade. Parece que renasci de novo. Quando normalmente se utiliza esta expressão do “renasci de novo” está-se conotando essa “nova vida” como uma coisa positiva, a realização de um sonho, uma mudança extraordinária…  Não é o caso. É sim mesmo um novo “nascer”. É uma vida nova, sem destino programado, como que se fosse uma inevitabilidade sem controlo por minha parte.
Muito tempo passou sem que aqui, neste meu “cantinho” colocasse alguma coisa. Já tinha saudades deste meu “cantinho”, que algumas vezes visito com nostalgia. Não sou escritora!
Só escrevo estas humildes palavras porque é um passatempo de que gosto e porque me dá prazer por no papel aquilo que no momento estou a sentir ou a viver e que aprecio recordar quando visito este espaço.
Até aqui tenho escrito “coisas” que se misturam entre sonhos, realidades, invenções, fábulas ou lá o que se possa chamar…
Mas hoje vou escrevinhar realidades e verdades, para mim, claro.
Não vou dizer o que se passou na minha vida desde a última vez que aqui coloquei algumas palavras até este momento. Não é, para o caso importante. Vou partir deste momento, com algumas alusões aos últimos nove meses.
Ponto final!
É sábado. São dezasseis horas mais ou menos do dia vinte e nove. Estamos em Setembro de dois mil e doze. Está calor e sol.
Estou em Moçambique. Na Província de Nampula, na cidade de Nampula. Estou em casa do Rui e do Álvaro. Quem é o Rui e o Álvaro? Eu sei quem são.
Toda a gente sabe ou tem possibilidade de saber se lhe interessar, onde é Moçambique e onde é Nampula.
Para mim. Este local tem uma característica, que se resume a esta frase:
- Ou se ama e fica-se… ou se odeia e parte-se logo que haja possibilidade…
Eu amei África desde que, sobrevoando o território entre Nairobi a Nampula, fui beijada por aquele gigantesco maço de algodão, envolto numa pelicula azul com inscrições verde marinho daquela água que por baixo de mim corria, não sei de onde para onde.
Vim com ela e desaguei num porto seco, cor de Gauguin .
Logo percebi que estava em porto seguro e qual frase feita, “em casa”.
Dá para perguntar e eu pergunto-me isso a mim mesma muitas vezes porquê. Sinto porquê… mas não sei por em palavras. Ainda. Mas creio que vou um dia destes vou conseguir...

sábado, 4 de fevereiro de 2012




A Sua visita

A morte tem vários significados, conforme dicionário, corresponde a falecimento, a passamento, ou ainda a desencarne.
No entanto, corresponde sempre a um cessar, sempre, das atividades biológicas necessárias à manutenção da vida de um organismo.
Todos nós, mais cedo ou mais tarde somos confrontados com tal evento.
É comum ouvirmos dizer que estamos ou não estamos preparados para tal facto.
Para a nossa (morte) não creio que alguma vez estejamos preparados.
Para sentir a morte, de outros, ainda que o digamos… creio que na maior parte das vezes também não estamos preparados para tal.
A nossa cultura não nos educa para essa situação.
A morte está sempre presente e enraizada na nossa vida e a ela damos um grande significado porque ela encerra o medo, a dúvida, a incerteza, a necessidade de acredita ou não “vida” para além dela.
“Festejamos” a morte com manifestações religiosas, com manifestações sensoriais, com manifestações individuais.
A morte tem dias… de finados ou de todos os santos, da ressurreição, semana santa, aniversários de morte, e outras manifestações.
Culturas há que festejam a morte como um momento de passagem, onde se recorda o encontro com o ente que parte, onde a dor não é exteriorizada como na nossa cultura…
Pensarão, com toda a razão, o que me leva a escrever, ou melhor dizendo, a desabafar para este meu espaço, sobre tema tão mórbido.
Verdade!
Por uma situação pessoal estou passando de perto por ela.
Ela:sim a morte.
Estou passando mesmo pertinho dela e sentindo uma dor imensa.
Esta vizinhança tem-me feito pensar muito…
Penso em mim…
Penso no outro…
Penso em nós…
Penso nos outros…
Penso como será?
Penso o que virei a sentir…
Penso como poderei ajudar-me a mim e aos outros…
Penso e com muito afinco na justeza da morte… e nas suas escolhas.
Mas sobretudo penso que a vida tem-me vindo a ensinar que efetivamente a nossa passagem por este mundo é efémera. Para uns mais que para outros.
E, eu, ”pecadora me confesso” também me incluo naqueles que somente quando Ela me visita me questiono e tento dar um sentido a esta realidade.
Então? Porque fazemos da nossa vida do dia-a-dia uma corrida desenfreada contra o tempo e contra tudo e todos?
Eu sei que não tenho moralidade para escrever isto, porque afinal de contas, eu sou somente uma entre milhões que o fazem…
Mas não deixo de pensar nisso
A morte vem…
E chega quando menos esperamos.
Independentemente da idade, da cor, da raça, da religião, da condição socio-económica…
Ela está sempre presente no infinito de cada um de nós.
Então porque tiramos a vida uns aos outros se ela (a dita) é um dado adquirido em todos?
Então porque o mundo não é melhor?
Agora digo-te a Ti:
Vai embora, vai… sai da minha vida…
 
Receita para fazer um herói

Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.

Serve-se morto
"Reinaldo Ferreira"

domingo, 2 de maio de 2010


Amo-te daqui até à lua!!!:) - feliz dia da mãe

Encontrei uma flor.
Flor essa que vi ser flor.
Vi essa flor perder pétalas,
Vi o crescer dos seus espinhos.
Encontrei-a e percebi que era a mais bela.
Mais bela não por ter as pétalas mais perfeitas,
Mas por ser a mais forte e a mais delicada ao mesmo tempo.
Por em seu vislumbre, conseguir sentir tudo.
Porque me deixo invadir pelo seu cheiro.
Por conseguir querer afagar a sua delicadeza num momento,
Como nos seguintes desejar que os seus espinhos trespassem a minha derme.
Não encontrei a flor perfeita.
O perfeito é para todos, logo não existe.
Existem sim muitos perfeitos.
Ela é perfeita!
Aos meus olhos é perfeita!
Ela sabe isso.
Sabe até quando o sol vem e timidamente ela tenta esconder o meu
sangue que ainda mora nos seus espinhos.
Mas o sol vem e seca-o.
Seca-o para nunca mais de lá sair.
E ai ela sabe... Sabe que para sempre eu estarei por perto.
"Bébé"

De mãe!
Certa vez perguntaram a uma mãe
qual era seu filho preferido,
aquele que ela mais amava.
E ela deixou entrever um sorriso,
respondeu:
"Nada é mais volúvel que um coração de mãe".
E como mãe lhe respondeu:
o filho predileto,
aquele a quem me dedico de corpo e alma é o meu filho doente até que sare
O que partiu,
até que volte
O que está cançado,
até que descanse
O que está com fome,
até que se alimente
O que está com sede,
até que beba
O que está estudando,
até que aprenda
O que está nu,
até que se vista
O que nao trabalha
até que se empregue
O que namora,
até que se case
O que casa
até que conviva
O que é pai,
até que os crie
O que prometeu,
até que cumpra
O que chore,
até que cale
E já com o semblante bem distante daquele sorriso completou:
O que me deixou,
até que o reencontre


"desconhecido"

domingo, 25 de abril de 2010

Amália /**Abandono**/

25 de Abril de 2010

Deveria escrever qualquer coisa para assinalar esta data, para mim tão importnte.
Mas, depois de ler este texto do meu amigo Eduardo Luciano, fiquei sem palavras. Aqui está tudo.
Com sua autorização, publico-o aqui no meu "cantinho"

"E já passaram 36 anos sobre aquele momento libertador que muitos acreditaram ser o passo para uma outra sociedade.
A distância da data histórica permite que quase todos comemorem, comemorando coisas diferentes. Há quem comemore a liberdade, há quem comemore o sonho que parecia possível, até há quem comemore o contrário dos ideais de Abril.
Também há os que aproveitem a data para aprofundar o processo de revisionismo histórico, para plantarem “heróis” convenientes em cenários onde nunca estiveram.
Muitos de nós caímos na tentação de ficar presos na lembrança de momentos de entusiasmo irrepetível, de solidariedades que pareciam não ter fim, de transformações políticas que pareciam acontecer por milagre.
Recordamos cantores e canções, alguns deles desafinam hoje o que afinavam naquela época e falam desse tempo como quem fala de um momento de passageira loucura.
Também recordamos, algumas vezes com uma frase que envolve referência às progenitoras, aqueles camaradas que pareciam ter a revolução a correr-lhes nas veias, que eram mais revolucionários que a própria ideia de revolução e que afinal, quando os ventos mudaram, eles mudaram ainda mais depressa que o vento.
Nas escolas a maioria dos professores transmitirá aos alunos o que é consensual na comemoração e ocultará o que de mais exaltante aconteceu, porque falar em reforma agrária, nacionalizações, controlo operário, não é politicamente correcto.
Não fujo a nenhuma destas vertentes da comemoração. Também regresso à adolescência, também povoo a memória de canções, de episódios, de frases escritas numa parede.
Apesar dessa incontornável nostalgia, prefiro festejar o Abril que falta cumprir. Prefiro festejar a disponibilidade de continuar a acreditar num futuro onde a liberdade e a igualdade se encontrem, onde a democracia não se esgota em actos eleitorais e se cumpre na vertente política, cultural e económica.
Contrariamente ao que nos pretendem fazer crer, os tempos que vivemos hoje não são consequência da revolução de Abril. São uma consequência do que ficou por cumprir de Abril.
A melhor forma de festejarmos o 25 de Abril, não é a olhar para trás. É com os olhos postos no futuro, empenhados na sua construção, lutando para que se cumpram os seus ideais.
Cantemos a Grândola, não como um hino do passado, mas como um projecto cantado de uma sociedade que ainda não alcançámos.
A azinheira que já não sabia a idade e que nos fazia reféns da sua sombra, aligeirou-se, mudou de aspecto, modernizou-se e está mais liberal, mas continua a cumprir o seu papel.
Embora pareça, ainda não é o povo quem mais ordena, porque como dizia a canção do Sérgio, só há liberdade a sério quando houver /liberdade de mudar e decidir/ quando pertencer ao povo o que o povo produzir.
Abril não é passado. É o futuro de que não nos podemos permitir desistir."

"Eduardo Luciano"

sábado, 24 de abril de 2010

Hoje recebi um abraço

Etimologicamente, abraço é quando duas pessoas ficam parcial ou completamente nos braços uma da outra. É o envolvimento de uma pessoa nos braços de outra.
O abraço é a demonstração física de afecto, de cumprimento afectuoso, de carinho, de amor, de saudade, de protecção…
Mas o abraço, é muito mais que isso…
O abraço não é apenas um contacto fisco, mas o desejo de “abrir” a nossa intimidade. Como costumo dizer, um abraço permite-me “despir-me”. Mas como é óbvio, não nos despimos com qualquer pessoa, nem para qualquer pessoa. Logo, só abraçamos, uma pessoa especial.
Despir-me significa identificar-me, depositar confiança, e receber em troca essa mesma identificação e essa mesma confiança.
Se te abraço estou dizendo-te que confio em ti e que podes confiar em mim, que te podes despir que eu recolho a tua roupa e a vou arrumando no meu corpo, com carinho e compreensão, sem questionar se ela fica bem vestida, se as cores estão condizendo, se no aspecto final fica a harmonia.
Quando visto a tua roupa, eu vou tentando ser tu.
É uma troca, um compromisso, ainda que não haja toque.
Toque físico… Porque toque, não significa contacto…
Tocam-se os olhos, a voz, as mãos, a alma, a pele, as ideias, os pensamentos, a vontade, a sensação, o ser, o saber, o antes e o agora, e a necessidade ou não do amanhã.
Era noite, muito noite, senão já amanhã.
Ambos sabíamos que era preciso este abraço… Sabíamos que era preciso para perceber. Perceber se precisávamos… Creio que desde sempre sentimos essa necessidade.
Com este abraço muita coisa ficaria sentida. Era quase como um teste, uma aferição, uma apreciação, uma avaliação…
Ambos sabíamos necessário. Não o escondemos…
Hoje perguntaste-me se queria um abraço. Respondi que sim.
Fui abraçada, abracei, fui acariciada, acariciei, fui acarinhada, acarinhei, fui protegida, protegi…fui beijada, beijei.
E não te toquei… “O teu abraço, foi de certeza melhor que o teu abraço…”
Porque te abracei? Porque me deixei abraçar? Porque me ofereceste o teu abraço? Porque aceitei?
Ambos sabíamos necessário, urgente, premente, iminente, latente…
Como te disse, nada acontece por acaso e “a ponte é uma passagem…” “para a outra margem”
Um abraço, e estou a falar de um abraço somente emocional, transmite-me protecção.
Que contradição… Se me protege, porque me despe?
Porque despida, contigo, me senti protegida?
Com o teu abraço, fiquei mais forte. O teu abraço permitiu-me perceber-te melhor e perceber-me melhor… Perceber porque te quis abraçar e aceitei o teu abraço.
Fiquei mais rica.
Este abraço não soube o sabor da pele, dos corpos, mas soube o sabor da mente, o sabor da vontade de partilhar, o sabor da empatia.
No teu abraço, despiste-te. Despiste-te sem roupa, sem uma peça sequer uma gravata… Mas despiste a tua mente, o teu pensamento, a tua reflexão…
Não sei se vou voltar a despir-me e a ajudar a despir-te. Não sei se vais voltar a despir-te e a ajudar a despir-me. Não sei se vamos voltar a despir-nos…
Mas uma coisa digo, o teu abraço foi doce.
No teu abraço, li os teus olhos. No teu abraço li os teus lábios. No teu abraço, li a tua vontade e a tua contrariedade. No teu abraço li a tua (in) satisfação. No teu abraço li as tuas mãos, as tuas saudades, as tuas inseguranças. No teu abraço li a tua presença, o teu passado e o teu presente. No teu abraço li aquilo que quiseste que eu lesse… e subtilmente fizeste com que lesse. E olha que li e ouvi ler.
Quando me abraçaste, senti que tinhas vontade de o fazer. A certa altura senti que estavas na “tua praia”, envolvido naquele abraço. Depois foste-te afastando, como que se a intensidade do abraço fosse abrandando, fosses tendo menos necessidade de abraçar, até que partiste...
Que bonita e inteligente forma de comunicar…
Que bonita e inteligente forma de abraçar…
Gostaria de voltar a abraçar-te…
Hoje? Amanhã? Nunca?
Sempre.
Obrigada.

"Folha Caída"

Identidade
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

segunda-feira, 22 de março de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010


Zahir

“Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei”, “Maktub” e este … Ele tem a particularidade de ter bons títulos.
Em 2005, gostei do nome, ainda que não muito do autor (entenda-se o que escreve) …
E comprei. “Zahír”.
Comprei e li. Em 2005, achei que era um livro com uma mensagem interessante sobre a amizade, as relações humanas e a liberdade, mas que não me seduziu muito.
Hoje, 2010, disseste que me ias emprestar o “Zahír” para ler. Não disse que já tinha lido.
Um livro encerra sempre uma história. Uma história que é interiorizada pelo seu leitor, consoante o seu estado de espírito.
Os meus livros, são das poucas coisas que não consigo destruir, pôr no lixo, por a um canto… Não gosto muito de emprestar livros, porque enquanto os leio, vou fazendo anotações. Acaba por ser o meu contributo para a leitura. Um livro, nas minhas mãos, nunca fica igual…
Um livro meu, é sempre guardado no meu coração. É sempre guardado na prateleira e, de vez em quando, passo por lá, para dar uma vista de olhos às minhas anotações e quiçá ler um pedacito.
Há dois ou três dias, depois de me dizeres que eu deveria ler “Zahír”, passei pela prateleira. Ele olhou-me! Lá estava ele, de lombada triste, porque há muito que não saía…Peguei nele, com o carinho que sempre pego num livro.
Olhei-o bem de frente e tratei-o como se pela primeira vez lhe tocasse.
Gostei do grafismo, gostei do som, gostei da musicalidade.
Soou-me a nome de homem, soou-me a deserto, soou-me a cor de terra, soou-me a transcendente, soou-me a sobrenatural, soou-me romântico.
Soube-me a fruta tropical, soube-me a doce, soube-me a mel,
Pego nele com a mão direita, e com a mão esquerda, dedo polegar na contracapa e os restantes dedos na capa, deixo passar as folhas por entre o polegar. Finalmente viro-o para mim. Olho, e leio o título. Folheio-o, e lá cai o marcador que sempre fica entre as folhas dos livros que leio.
Decido aceitar o teu desafio e começo a reler, cinco anos depois de o ter lido. Eu sou outra… “Muita água já passou debaixo desta ponte…”
Sou outra e estou outra.
O meu zahír é outro…
Hoje, agora, apetecia-me oferecer ao meu zahír um ramo de rosas vermelhas.
Que as entregasses a um conjunto de pessoas que amas, que gostas, que respeitas, que admiras. Que esse ramo de rosas a ti voltasse…Por fim, que essas flores a mim tornassem. Sabes o que significaria? Eu sei. Mas não vou dizer.
Sabes que ao reler o “Zahír” me vejo, revejo, identifico.
Mas o curioso, é que me identifico com o personagem masculino. E agora???
Chove. Chove muito. Onde estará o meu zahír?
Descobri e redescobri conceitos, sensações que me passaram despercebidos na primeira leitura.
Descobri princípios, declarações, definições…
Sabes, ainda não terminei de reler. Mas sabes, vais ficar marcado indelevelmente neste livro. E sabes porquê?
Porque tanto tu no livro, como o livro em ti é zahír.

"Folha Caída"
---------------------
"As coisas importantes sempre ficam, o que vai embora são as coisas que julgávamos importantes, mas são inúteis."
“A liberdade tem um preço alto, tão alto quanto o preço da escravidão. A única diferença é que você paga com prazer e com um sorriso, mesmo quando é um sorriso manchado de lágrimas.”

"Paulo Coelho"

---------------------------------------

ÍTACA

Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se subtil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.

Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quando houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.

"Konstantinos Kaváfis (1863-1933) "

sábado, 20 de fevereiro de 2010

domingo, 31 de janeiro de 2010


Resposta

Espero-te sempre que a tarde cai
na esperança de que caminhes para mim
ansioso e com pressa de ser acolhido.
Posso oferecer-te um regaço.
Posso oferecer-te um calor.
Posso oferecer-te o gole do vinho que sendo teu, me embriaga, feito das tuas uvas colhidas no calor de um sol que acaricia a minha face.
Trazes a ligeireza da gazela que pula por entre os vales, em busca de um abrigo que encontras no meu ser ainda adormecido.
Deslizo as minhas mãos pela tua face, em busca de um carinho
que encontro na delicadeza das tuas mãos e na doçura dos teus lábios,
quando tu buscas o sabor das águas e das pétalas,
escondidas nos meus sentidos.
Trazes o desejo e paixão nessa hora de sensualidade.
Quando as tuas mãos de mim fazem musica, dedilhando uma sonata de Bach, fazendo esquecer as horas mortas do meu quotidiano.
Os minutos eternos, quase anos, fazendo desfolhar as folhas do calendário, desejando que o tempo regresse ao tempo de poder sentir, ao tempo de poder viver, ao tempo de poder amar.
Chegas e afagas o meu peito, fazendo com que ele ainda pule ao som do cair das gotas do perfume das tuas rosas, e onde permanece o desejo de um pulsar contínuo.
Partes, deixando um vazio doce preenchido com o desejo do regresso e…
Espero-te sempre que a tarde cai.

“Folha Caída”

Noite de Sonhos Voada

Noite de sonhos voada
cingida por músculos de aço,
profunda distância rouca
da palavra estrangulada
pela boca amordaçada
noutra boca,
ondas do ondear revolto
das ondas do corpo dela
tão dominado e tão solto
tão vencedor, tão vencido
e tão rebelde ao breve espaço
consentido
nesta angústia renovada
de encerrar
fechar
esmagar
o reluzir de uma estrela
num abraço
e a ternura deslumbrada
a doce, funda alegria
noite de sonhos voada
que pelos seus olhos sorria
ao romper de madrugada:
— Ó meu amor, já é dia!...

Manuel da Fonseca"

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


Gentilmente remetido pelo Eduardo
Sem título
Tomas-me sempre ao morrer da tarde
e caminhas por mim com passos apressados
ansiosa pelo meu desejo
quando eu te ofereço a noite
todo senhor
e um trago do meu vinho guardado
de uvas frescas de outono
Trazes a velocidade do tigre que alcança a presa
quando eu te recebo na branca paz
do meu ser adormecido
deslizas as tuas mãos por entre as minhas coxas
e a tua boca pelos meus lábios
quando eu velejo sem bússula
pelos quatro cantos dos teus sentidos
e sopro as as minhas pétalas pelo teu colo macio
Trazes desejo e paixão nessa hora de sensualidade
quando eu te toco como se fora música
e canto o meu bolero pelas curvas da tua carne
Esqueces as horas mortas do teu quotidiano de sempre
quando eu desfolho a minha vontade nua
consentida, facilitada, doce e confiadamente
E afogo no teu espelho de luz
os meus versos perfumados de rosas
e gravo no peito o som da tua partida
Que eu não aguento o vazio do caminho sem volta
Como uma gaivota fiel que sempre deixa
pegadas sobre a praia.

"Eduardo"

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O meu menino jesus chegou

Era perto da meia-noite, a chaminé fumegava, o sapato estava a preceito, a musica tocava lá no fundo… bem baixinho. Eu, criança, esperava que algum sorriso viesse pela chaminé.
Chegou.
Chegou sem ser esperado.
Esperado? - Não! Nem um pouco.
O sino tocou no quarto. Fui ver. Estava frio. Foi engano.
Alguém, Ele, Esse Alguém, tinha por engano tocado na campainha errada. Até porque já se tinha anunciado umas horas antes.
Não…
O sino tocou mesmo! Resplandeceu de brilho de uma noite de natal. Noite de natal, em que está proibido proibir.
Noite de natal, onde o mundo parece diferente.
Noite de natal, onde o mundo e as mentes estão abertas a aceitar sonhos e dúvidas.
Tilintou e olhei para a roupa ainda quente, ali tão perto.
Estás proibida de proibir, ainda que por uns instantes.
Foi fácil, ela ainda estava quente, a noite estava fria...
Estava frio, mas o suor escorria pela fronte, ainda em dúvida se ele tinha mesmo tocado.
Mas como é noite de natal e na noite de natal o mundo é melhor e cheio de sonhos…
É loucura? – É! Mas não tenho eu o direito à loucura? Ainda que seja na noite de natal?
Sim. Tenho!
Corria riscos?! – Sim corria. Os mesmos riscos corridos há meses atrás, numa partida de xadrez. Esses tinham sido combinados ao pormenor, medidos, questionados, acordados…
Estes não! Mas eram sabidos, logo mais exigentes e menos desculpáveis, mas mais imaginários, porque tudo era, ainda, imaginação.
Mas o sino tocou... Tocou e fui atrás daquele fio de melodia que somente chegava a meus ouvidos.
Onde?
No lugar do costume, ouvi dizer do fim daquele fio melodioso.
No lugar do costume! Estou só. Eu e o mar que bate nas muralhas como que a prolongar os muitos sussurros, choros e risos. Ele, o Pedro, tinha-me dito: “Andas à procura de amor no sítio errado”.
Saboreei a tua chegada ou simplesmente olhei-te com olhos de luar, somente aqueles que te conhecem…
Que fazer?
Não tive tempo. Fui enlaçada docemente, com um sabor a mel, só possível porque era noite de natal. As tuas mãos grandes, enormes, rodearam-me a cintura, como que querendo sentir que eu era de verdade, mãos que pareciam conhecer bem as marcas do meu corpo.
Senti-me pequena, quase partida a meio.
O banco do jardim estava coberto pelas lágrimas do céu.
Foi tudo tão real, tão nítido, tão objectivo e… tão sonhado, tão mítico, tão idílico, que surge o medo de que aquele momento se estilhassasse e onde o espelho da alma estava prestes a nublar.
Foram horas de trocas, de sensações, de toques, de carícias, de olhares, de sonho, onde vi na tua boca bem traçada, a linha do horizonte, e onde fui beber o ouro da tua fonte.
Perguntei-te se gostavas de dançar. Respondeste dormindo, que sim e...que gostavas muito de mim.
Beijaste meu corpo de pedra quente e marfim, mais quente que o sol tropical, com boca e língua de maresia.
Foste o meu menino jesus.
Negaste.
Reafirmei. Voltaste a negar.
Pediste desculpa.
Disseste pela enésima vez que…gostavas de mim.
Foste o meu menino jesus.
Voltaste a negar.
Que fazer? – Não sei.
Foi talvez, só imaginado, ou aconteceu e foi demais?
A magia, porque magia do natal, veio verme. Creio que pela primeira vez.
Ali esteve a magia, a doçura, a distância ausente e presente.
Explicaste a ausência da presença, por feitio próprio.
Repetiste frases do xadrez.
Já me habituei com carinho, às migalhas da doçura que me deste.
Foi necessário vir o menino jesus para me dizer que a ave que há em ti precisa voar, que não tem ninho por perto, até porque, voar é preciso!
Precisas voar… e saltar…ao sol e em qualquer primavera…
O menino jesus mostrou-me o caminho.
Mas como é natal, eu gostei de saborear, salivar, degustar e digerir saudosamente, alegremente, felizmente as tuas migalhas, tamanho do pão do mundo, que me alimentaram desde o Verão.
Acho que, com as tuas migalhas, fiquei forte, robusta e leve. Assim também eu posso voar.
Vamos voar juntos?
Ainda que em sentidos e com sentidos distintos, quem sabe talvez um dia, como eu tremia, pensando que nos céus imaginários, nos encontremos na linha do horizonte da tua boca.
É dia de natal.
O meu coração sorri;
A minha boca sabe a mel;
As minhas mãos ainda estão quentes;
O meu olfacto detecta o teu cheiro;
Os meus olhos fechados vêem o brilho da lua e sentem o calor do sol.
Foste!?
Vai… Com muito amor
Obrigada menino Jesus.
-----------------------------------
"Folha Caída"
-------------------------------

Não te quero

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,como um cego.
Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,a sangue e fogo.
Nega-me o pão, o ar,a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,porque então morreria.
-----------------------------------
"Pablo Neruda"
------------------------------

sábado, 28 de novembro de 2009


Queres namorar comigo hoje?


A sociedade evolui. A escrita evolui. As palavras evoluem. Os sentimentos também.
Queres namorar comigo hoje?

Algumas palavras, concentram experiências comunitárias, que não têm equivalentes na unidade lexical de outras línguas, e são o fruto de sequências comportamentais, acções e cenas recorrentes, que fazem a aparência "material" da língua, assumir uma dada configuração.
Como exemplo, pode referir-se a situação do povo Boro, da Índia, que tem um vocabulário, aparentemente bem mais atento às nuances dos sentimentos do que muitas outras línguas. Para eles, onsay significa "fingir amar"; ongubsy, "amar de verdade" e onsia, "amar pela última vez".
Queres namorar comigo hoje?

Através da linguagem verbal o homem recria o universo e age sobre ele.
O significado da palavra namoro, hoje, tem um sentido perfeitamente distinto daquele que tinha no tempo dos nossos pais e avós, para não ir mais longe – porque aí outros parâmetros também tinham que ser considerados.
Queres namorar comigo hoje?

Já Rui Veloso e muito bem, na sua canção diz : “já não há cartas de amor, como havia antigamente.”
O conceito clássico de namoro está hoje depreciado. Hoje, falar de namoro, é falar de uma brincadeira, com vista a encontrar o prazer caprichoso, sem intenções sérias, e não tendo como fim o noivado e por consequência ao casamento.
Queres namorar comigo hoje?

O namoro, conforme o conhecemos hoje, é um acontecimento recente e moderno.
Namorar, hoje, é um acto mais do que banal.

Mudanças comportamentais, libertação sexual (conquistada com o feminismo), avanços tecnológicos, quebra de tabus, rapidez de evolução cultural, onde o imediatismo dá o tom de descartabilização, num universo de liberdade e múltiplas escolhas, fazem com que os relacionamentos afectivos ganhem novas conotações .
Queres namorar comigo hoje?

As tradicionais etapas de namoro, noivado e casamento, conhecidas na época dos nossos pais e avós, hoje desdobram-se noutros verbos conjugados, como ficar, andar, estar e morar juntos, que não precisam, necessariamente, seguir esta ordem, nem, muito menos, culminar num compromisso como o casamento ou morar juntos para o resto da vida, ou ainda por um longo período.
Queres namorar comigo hoje?

No entanto, mesmo com o romantismo em desuso, a busca e a procura do amor, bem como o namoro, continuam uma constante nas relações humanas, independente da idade, do sexo ou da religião.
O que muda com todo este amontoado de transformações, é a forma como se busca este amor.
Queres namorar comigo hoje?

Hoje as pessoas relacionam-se vendo o outro como um objecto/sujeito que deve suprir as suas necessidades para ficar ao seu lado. Não se vê o amor como complementação. É a coisificação do ser humano, bem patente quando as pessoas que acabam de se conhecer trocam beijos e carícias, em suma, intimidades, sem qualquer compromisso.
Queres namorar comigo hoje?

Pode fazer-se a relação com um test-drive de carros, só que, com pessoas, onde aquele que cumpre as exigências necessárias, que geralmente são beleza, inteligência, estabilidade financeira e um 'beijo bom' tem maiores chances de chegar a ser namorado, do que alguém para se conhecer e levar a sério, sendo quase como entrar numa loja e escolher um produto.
Neste extremo, o namoro resume-se a uma fêmea, um macho, ou duas fémeas e dois machos.
Neste extremo, o namoro resume-se a um número. É um holograma de carne, um corpo, uma boca, um par de mamas, um par de cochas...

Levado ao extremo, o que hoje chamamos namoro, antes, era visto como fornicação, que era aquilo que em Roma acontecia sob o fórnice, ou seja a curvatura de um arco, como nas pontes; lugar no qual, em geral, era possível fazer sexo em pé, com uma mulher, paga ou não. Daí vem a palavra fornicação.
Queres namorar comigo hoje?

Convém referir e reafirmar que a minha opinião do que está acontecendo, nas questões do relacionamento, não é baseada num olhar moralista, que não possuo, nem numa concepção de julgamento que não me é autorizada (atire a primeira pedra quem nunca pecou – dir-se-ia), mas sim com o olhar de quem vê e desapaixonado.
Queres namorar comigo hoje?

Mas mais uma vez, desapaixonadamente, me questiono sobre os reflexos e os estragos que estas relações e experiencias afectivas desastrosas, no extremo, podem causar especialmente nos menos preparados e imaturos e nos mais jovens.
Queres namorar comigo hoje?

Questiono-me se estes desencontros e desenraizamentos de valores não serão, em parte, responsáveis pelas frustrações, pelas decepções e pelos desamparos de afectos, onde a solidão e isolamento são uma constante nesta nossa sociedade, necessitada de se sustentar nalgumas verdades e conceitos criados, e materializá-los para que viva com equilíbrio, físico e emocional.
Mas…
Há sempre um mas.
Ainda há os que namoram com amor e com carinho, com amizade e desejo, com cuidado e esperança, com apego ao hoje e vontade de que haja muitos amanhãs, quem sabe para sempre.
Queres namorar comigo hoje?

De uma maneira ou outra e o mais importante, é que as pessoas se amem, com respeito, carinho, dádiva, companheirismo, amizade, fraternidade e já agora… com um pouco de romantismo.

Queres namorar comigo hoje?

------------------------------

"Folha Caída"

-------------------------------------------------

Se você quer ser minha namorada

Ai, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exactamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarzinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porquê
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.

-------------------------------
"Vinicius de Morais "

----------------------------------------------

sexta-feira, 27 de novembro de 2009


Queres namorar comigo ontem?


As emoções foram durante muito tempo matéria da psicologia, encaradas como psicobiológicas, dadas à priori.
Durkheim e Simmel ressaltaram o seu carácter social e segundo alguns autores, somente a partir da década de 80 é que as emoções passam a tomar lugar no campo das ciências sociais, em particular na área da antropologia, a chamada antropologia das emoções.
Queres namorar comigo ontem?

Durkheim, aborda a dimensão social das emoções partindo de estudos sobre o fenómeno religioso e das suas representações colectivas, que dão origem à manutenção do consenso social e à unidade da sociedade. Já Simmel aborda as emoções estudando os fenómenos da fidelidade, da gratidão e do amor, onde afirma que estes fenómenos surgem da interacção entre os indivíduos, que adquirem status social porque articulam com as formas de relações.
No entanto, é com Mauss que se desenvolve a constituição das emoções como facto social e em que este afirma que “só há comunicação humana através de símbolos, de sinais comuns, permanentes, exteriores aos estados mentais individuais que simplesmente são sucessivos, através de sinais de grupos de estados considerados a seguir como realidades". Mauss defende que as emoções formam uma linguagem, ou seja um conjunto de signos de expressão, que em muitas vezes leva a manifestações obrigatórias (morte/ritos fúnebres, namoro/casamento).
Estes e outros estudos e autores motivam em mim a teoria de que, as emoções, sendo também psicobiologicas, têm um grande cariz social, com um grande porte cultural.
Assim, há necessidade de se perceber a linguagem das emoções, como elemento de comunicação, e de interacção social e cultural.
Queres namorar comigo ontem?

Parto desta ingénua e acientífica abordagem, para escrever o que me vai no pensamento sobre a amizade, e em alguns casos, como ela conflui para o namoro, hoje que, namoro tomou conceitos, perspectivas, espaços, lugares, meios de contacto… tão distintos da era onde a nova tecnologia estava ausente.
A palavra "amizade" em português refere-se tanto a um sentimento quanto a uma relação específica. Segundo o dicionário Aurélio, esse sentimento engloba outros, como afeição, simpatia e ternura, e pode, assim, estar presente em relações que não são caracterizadas como de amizade.
Já no dicionário inglês Oxford, encontramos uma definição mais restrita da categoria, que se refere apenas à relação entre amigos ou ao sentimento associado a essa relação específica.
Embora sejam definições formais de dicionários, esses significados apontam para elaborações culturais particulares, mostrando como o conceito de amizade pode diferir de sociedade para sociedade, de cultura para cultura, de religião para religião…
Recorrendo ainda à sociologia (Allan, Paine e Suttles), amizade é vista em geral como uma relação afectiva e voluntária, que envolve práticas de sociabilidade, trocas íntimas e ajuda mútua, e necessita de algum grau de equivalência ou igualdade entre amigos. Nesta discussão, a amizade é alocada estritamente no domínio privado da vida social.
Mas, (Bell, Coleman, Papataxiarchis e Silver) mostram-nos como os significados da amizade em contextos históricos e culturais distintos vão realçar ou eclipsar esses termos, que, por sua vez, se mostram entrelaçados com uma forma especificamente ocidental e moderna de pensar a pessoa e sua relação com os outros.
Queres namorar comigo ontem?

No dicionário Aurélio, namoro é definido como uma instituição de relacionamento interpessoal não moderna, que tem como função a experimentação sentimental ou sexual entre duas pessoas através da troca de conhecimentos e uma vivência com um grau de comprometimento inferior à do matrimónio.
A grande maioria utiliza o namoro como pré-condição para o estabelecimento de um noivado ou casamento definido este último acto antropologicamente como um vínculo estabelecido entre duas pessoas, mediante o reconhecimento governamental, religioso ou social.
Queres namorar comigo ontem?

Para um católico que pretenda casar, o namoro pode ser visto como uma relação que permite avaliar a adequação do outro como parceiro, a fim de, com ele, vir a constituir uma união indissolúvel de corpo e alma. Portanto um namoro não se limita a ser uma possibilidade de fruição de prazer, mas é um empreendimento espiritualmente importante que permitirá, ou não, dar origem a um sacramento instituído por Deus, o matrimónio.
Queres namorar comigo ontem?

Entre os protestantes, namoro descompromissado, históricamente, não é bem visto, por atentar contra suas doutrinas originais, que solicitam pureza moral e abstinência sexual antes do casamento. Porém, no mundo pós-moderno, a proliferação da ideia de verdade relativa, tem sido aceite neste meio, o que promoveu uma maior liberdade sexual no compromisso do namoro, havendo até casos em que os parceiros dividem o mesmo lar sem a oficialização do relacionamento diante da Igreja.
Queres namorar comigo ontem?
Entre os evangélicos, devido à ideia de retorno às origens do cristianismo, e à sua pureza inicial, ideia esta que promoveu o surgimento das denominações chamadas evangélicas, os seus teólogos tem discutido a necessidade da existência, actualmente, deste nível de relacionamento pré-conjugal quando, na própria cultura hebraica (povo cuja cultura moral foi o berço do cristianismo) o namoro nunca existiu, ou sequer foi citado.
Queres namorar comigo ontem?

Segundo a tradição hebraica, mesmo que a um homem, não fosse possível serem os seus pais a escolher o cônjuge (o que era preferencial), e fosse necessário que ele mesmo fizesse essa escolha, a ele só seria lícito comprometer-se em noivado com (se prometer para) uma mulher, aos pais, ou responsáveis dela. Neste compromisso, qualquer envolvimento sexual ou afectivo com outra mulher que não a noiva já implicava uma traição. Mas também, não era permitido qualquer contacto sexual, em nenhuma intensidade, com a noiva. Em alguns casos nem sequer o desenvolvimento de uma amizade, pois até esta deveria acontecer apenas no casamento.
Por tudo isto, pergunto:


Queres namorar comigo ontem?

----------------------------------------
"Folha Caída"
-------------------------------------

Eu não existo sem você

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você
Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você
--------------------------------
"Vinicius de Morais"
--------------------------

quinta-feira, 15 de outubro de 2009


O que pensa a gaivota

Ela voa… voa… faz rasantes… queda-se, ora quer em cima do mastro do barco, ora no parapeito da muralha do rio.
Volta a subir em direcção ao céu, em busca do seu mundo.
olha… observa… vê… pára… pensa…
Sim, pensa. As gaivotas também pensam…
Pensam de modo diferente daquele que nós, aqueles que pensamos que somos o ser superior, pensamos.
Mas elas, na sua agremiação… pensam. Pensam e transmitem informação e conhecimento, pensamentos, sensações, saberes, experiencias.
Ela voa e observa.
Elas, as gaivotas, fazem parte do espaço que nos rodeia.
E ali está ela observando o vai vem daquelas criaturas. Sim criaturas, porque para ela somos simplesmente isso.
E observa a esplanada, onde uma fileira de criaturas perfila como se de uma carreira de formigas se tratasse, que transportam o seu alimento, adivinhando um Inverno agreste.
Observa e pensa…
Que farão aquelas criaturas, naquele vai vem, umas de pé outras sentadas, erraticamente dispersas? Umas sozinhas…, outras acompanhadas…
Umas conversam…, outras estão caladas…
Umas, outras, estão fechadas em si mesmo, com o olhar perdido na imensidão daquele Rio.
Há ainda aquelas, outras, que partilham um ruído estrondoso mas rítmico, de boca aberta, dentes à mostra. Ela não sabia que aquelas criaturas, as outras, estavam a dar gargalhadas…
O som das águas, no seu vai vem, recorta aquele buliço.
Mas não é suficiente para desviar a atenção da gaivota das tais criaturas que, na imagem que delas faz, se assemelham a formigas que cativam os sentimentos para os formigueiros, armazenando ou desperdiçando o que tanta falta vai fazer naquele Inverno que se avizinha.
Há umas, outras, que lhe chamam especial atenção.
São aquelas, que estão fechadas em si mesmo, olhar perdido no horizonte, quem sabe pensando em mais um dia da sua vida, em mais um dia da sua existência.
Mil pensamentos ali passam, mil sensações, mil recordações. Umas trazem nostalgia, outras, amargura.
As expressões mudam conforme o sentido em que o vento transporta os pensamentos…
Uns, o vento leva-os, outros, o vento trá-los…
E a expressão delas muda.
E ela, a gaivota, interioriza o quadro estranho, misterioso, enigmático que se lhe expõe.
Ela não consegue esclarecer aquele quadro…
Ela voa, ela ri, ela canta, ela olha, Ela…
Porque não voam???
-----------------------
"Folha Caída"
-------------------------
Gaivota
Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse
Que perfeito coração
no meu peito bateria
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração
Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.
Que perfeito coração
morreria no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.
-------------------------
Alexandre O'Neill
----------------------------------

quarta-feira, 7 de outubro de 2009


Nostalgia


Hoje acordei sonhando. Chovia.
Hoje acordei poesia,
Hoje acordei desejando,
Hoje, a primeira gota de ar que respirei, foi passado.
Hoje está a chover…
A chuva causa-me nostalgia, ou seja, é o sentimento que sinto quando chove.
Mas é uma nostalgia doce, serena, suave, tranquila, melada…
Pergunto-me muitas vezes, quando chove, porque tenho esse sentimento.
Aí vem a questão.
Nostalgia está, para mim, associada a saudade.
Mas está só associada. (Porque comparar nostalgia com saudade é como comparar a beira da estrada com a estrada da beira (ahahaha)).
A saudade para mim é uma mistura de perdas, mas perdas recuperáveis, resgatáveis, restauráveis…
A nostalgia encerra uma sensação de saudade de um tempo ou de uma situação vivida, ou de uma pessoa.
Esta sensação é por vezes idealizada, irreal, florida, imaginária (não é por acaso que a nostalgia depende muito do estado de espírito).
A nostalgia, é portanto um sentimento associado à melancolia originada pela lembrança, dourada, mesclada, sonhada, que se sente pela ausência e que gostaríamos de voltar a reviver…, onde o velho se mistura com o novo.
A grande diferença entre a nostalgia e a saudade é que, enquanto a saudade em presença do ente saudoso, esvai-se, acalma-se, aquieta-se, atenua-se…, a nostalgia, em presença do ente nostálgico, não diminui, pelo contrário, alimenta-se do ente e fortalece-se, aumenta, cria mais raízes, mais alicerces, mais enlevos, mais sonhos clandestinos, mais necessidades…
A nostalgia é autofágica e quanto mais alimento se lhe dá, mais ela precisa…
Quem nunca se saciou com um perfume, um sabor, um gesto, uma cor, uma musica, uma palavra?

Quando te digo tenho saudade, deveria dizer... tenho nostalgia. Não seria mais correcto?
Sei que uma tarde qualquer de um dia dez qualquer, de um mês de Agosto qualquer, vindo de um lado qualquer, numa qualquer cidade de qualquer país, aparecerá numa praça qualquer, uma qualquer nostalgia, que me fará apagar a saudade ou uma qualquer saudade que me fará aumentar a nostalgia. Aí, quem sabe, me completarei.
-------------------------------------------------
"Folha Caída"
----------------------

Saudade

Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo
em dicionários antigos e poeirentos
e noutros livros onde não achei o sentido
desta doce palavra de perfis ambíguos.
Dizem que azuis são as montanhas como ela,
que nela se obscurecem os amores longínquos,
e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a nomeia num tremor de cabelos e mãos.
Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
seu segredo se evade, sua doçura me obceca
como uma mariposa de estranho e fino corpo
sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.
Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado
desta palavra branca que se evade como um peixe?
Não... e me treme na boca seu tremor delicado...
Saudade...

----------------------------
"Pablo Neruda"

quarta-feira, 9 de setembro de 2009



A realidade Foi.

Durante muito tempo, era só o cumprimento, o desejo de bom dia, boa tarde, boa noite, bom fim de semana… Nada de coisas íntimas.
Um dia, vá lá saber-se porquê, a conversa prolongou-se.
Ambos quiseram saber mais um do outro.
O que gostavam, o que queriam da vida, em que situação se encontravam, onde trabalhavam, onde estudaram, o que gostavam de comer, o que gostavam de ler… Enfim, aquilo que faz falta conhecer, para que as pessoas sintam o que há de comum ou não, entre elas…
Todos os dias conversavam por longos períodos, interrompidos pelos afazeres quotidianos.
Deixou de ser conversa de circunstância. Passou a ser conversa mais profunda.
Trocaram fotografias…
Mas, não se conheciam pessoalmente. Tratavam-se por você.
Mas fumavam juntos… e até café partilhavam…Depois,
Durante algum tempo foi conversa de sedução.
Trocaram gostos sobre sobremesas, sobre desejos, não sei porquê, mas frequentemente envolvendo comida, bebida, mesas de jantar…
Encenaram o que poderia ser um encontro, entre os dois, como se um e outro, fossem as melhores companhias do mundo.
São transportados para um “ambiente lindo, de pouca luz, com velas aromáticas a despertarem sentidos e uns belos gin’s já bebidos, a desinibir atitudes” No final descobrem que foi uma brincadeira.
Um dia… melhor, uma noite, a conversa evolui, creio que ainda na brincadeira, e começa uma cena de teatro, com actos e tudo.
Ele chega. Encontram-se num local sem muita confusão… discreto… apercebem-se que são eles. Dão um beijo… Apresentam-se.
Depois de um jantar muito agradável, resolvem tomar uma bebida num lugar qualquer. Tem com ela uma garrafa de vinho tinto e dois copos. Após negociação vão ao sítio escolhido tomar um copo e ver as estrelas. A conversa está agradável, a noite quente, a lua está cheia, o vinho começa a fazer efeito.
“Arriscas ou não?
Mas pelo menos lembra-te de mim de vez em quando…
Arrisco e não desapareço, eu prometo que não!!!!!!!!!!!! Atreve-te!”
À entrada, há pétalas de rosa branca espalhadas pelo chão que ela amachuca com os pés, salpicados com areia da praia.
O seu cabelo roça a boca dele e foi escolhido um sítio lindo, rodeado por um tabuleiro de xadrez, separado por oliveiras.
Caminham de mão dada como se o namoro os acolhesse.
A noite continua clara e o céu estrelado entre dois cigarros fumados, no intervalo de um sonho e no jogo de xadrez que paira por baixo deles.
E vem mais um cigarro. E mais uma partida daquele xadrez, que te olha como se tu não o visses, ali quieto e calmo à espera de outro cigarro… E foram mais.
A noite continua clara e luminosa. Ao fundo, o escuro de quem não quer ver, nesse momento, o que está para além das estrelas.
Foi estranho. Foi diferente. Foi a surpresa. Surpresa, sim. Não foi o sonhado. Não foi o desejado. Foi simplesmente. Foi.
Claro que sendo um sonho, uma construção, não poderia ter sido melhor. O sonho tem a característica de nos empurrar para aquilo que desejamos e construímos com a nossa mais íntima e por vezes inconfessável fantasia.
Mas um sonho, sonhado sozinho, é um sonho. Um sonho, sonhado a dois, é realidade. E a realidade Foi.
Não teve dois copos, não teve uns gin’s já bebidos, não teve pétalas brancas nem grãos de areia, nem todo o enleio antes trocado.
A realidade Foi.
Hoje não há sedução, não há longas conversas, não há partilha, nem risos nem brincadeiras, não há tempo, não há a vontade que chegue, não há o intervalo dos afazeres, não há enleio, não há a esperança de um gesto que hás-de fazer, não há jogos de xadrez, não há Sonho.
Os sonhos são sentimentos, que não se podem prender, qual cavalo selvagem que dificilmente se domina.
São como rios que sempre chegam ao mar, ainda que construídas várias represas.
São com as estradas sem sinalização que te alerte para os perigos.
São como o vento que nada nem ninguém consegue deter.
Fazem tanta falta como o fogo, que queima, mas que todos precisamos sentir.
Os sonhos são sentimentos que florescem no coração, qual rosa branca, a das pétalas que nunca existiu, e que por vezes deixa os seus espinhos.
Por isso são sonhos.
A realidade é bem outra. Até porque o sonho é comummente um acto solitário e a sua materialização, neste caso, é um acto a dois.
Não depende de um só sonho. Depende da comungação de dois sonhos, que dificilmente se transforma num sonho comum.
Hoje li e reli. Fechei meus olhos e queria trazer o sonho de volta. Tive saudade daquele sonho. Fez-me bem ter saudade. Não, não sou fraca nem revivalista. Sinto saudade e essa saudade faz de mim um ser humano em crescimento.
Há sonhos que merecem ser ressonhados. Este merecia.
"Sonhar é acordar-se para dentro". (Mário Quintana)
-------------------------------------------------------------

"Folha Caída"

-------------------------------------------------------------
Noite de Sonhos Voada

Noite de sonhos voada
cingida por músculos de aço,
profunda distância rouca
da palavra estrangulada
pela boca armodaçada
noutra boca,
ondas do ondear revolto
das ondas do corpo dela
tão dominado e tão solto
tão vencedor, tão vencido
e tão rebelde ao breve espaço
consentido
nesta angústia renovada
de encerrar
fechar
esmagar
o reluzir de uma estrela
num abraço
e a ternura deslumbrada
a doce, funda alegria
noite de sonhos voada
que pelos seus olhos sorria
ao romper de madrugada:
— Ó meu amor, já é dia!...

-------------------------------------------------
"Manuel da Fonseca"

---------------------------------------------------------

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Não tenho tempo…

Frequentemente, egoisticamente, estupidamente, digo “não tenho tempo”.
Não tenho tempo para ir ver a mãe, não tenho tempo para ligar a um amigo e dizer-lhe que gosto dele e saber se está bem, não tenho tempo para ir visitar o meu médico e verificar se a saúde está bem, não tenho tempo…
Hoje, e desde há alguns dias, tenho tempo…
Não tenho sim, paciência.
“Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com os nossos pensamentos. Com os nossos pensamentos fazemos o nosso mundo” “Buda”.
Aceito esta frase na íntegra.
Mas ela obriga-me a um exercício de confissão.
Hoje vou escrever sem alegorias, sem segundos sentidos, sem magia.
A religião, enquanto conduta espiritual, não me diz nada. Não acredito em Deus. Naquele Deus que nos motivam a acreditar… Acredito sim no meu Deus. E dele não vou falar.
Ontem, estive numa igreja. Não fui à missa. Mas ela, a missa, estava a decorrer e como para mim, sempre tive presente que, qualquer coisa que ouça serve-me sempre para alguma coisa, não fechei os ouvidos à palestra do padre.
Dizia ele, o padre, que há dois tipos de pessoas más. As que são más e que nada fazem para ser melhores e as que são más mas que trabalham e se esforçam por não o ser.
Esta alusão para voltar à frase atribuída a Buda.
“Somos o que pensamos (..)”
Esta frase eleva-nos a uma tomada de atitude, a uma manifestação quase física de nós mesmos e não a uma tradução à letra da mesma.
Somos sim aquilo que decidirmos ser… O produto daquilo que queremos ser, que pode ou não ser o resultado de um processo de transformação que origina um ser diferente.
Se somos aquilo que pensamos, nesta minha interpretação, então eu tenho que melhorar…
Tenho que ter mais tempo.
Tenho que ter tempo para mim, para ti, para nós…
Tenho que ter tempo, ou melhor, porque também acho que estou a ser um pouco injusta comigo, tenho que ter Mais tempo.
Tenho que ter tempo para estar com algumas pessoas que amo e não tenho estado o suficiente, e que pertencem à minha intimidade, logo não vou revelar…
Tenho que ter tempo para olhar as estrelas, tenho que ter tempo para saborear um gelado à beira mar, tenho que ter tempo para ver aquele filme, tenho que ter tempo para olhar aquele por do sol, tenho que ter tempo para te fazer aquela carícia, tenho que ter tempo para ler aquele livro, tenho que ter tempo…
Ter, não… Ter mais.
Creio que pertenço àquele grupo de pessoas que quer, mas ainda não quis tanto, que fez…
Mas também creio que estou caminhando.
Hoje, e desde há alguns dias tenho tempo.
Não tenho sim, paciência.
Mas creio que estou perto de ter tempo, paciência e concretizar.
Assim, estarei no caminho para ser um Ser Humano melhor.
-----------------------------------------------------------------------------------
"Folha Caída"
---------------------------------------------------
Sonhe
Sonhe com aquilo que você quiser.
Vá para onde você queira ir.
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar, duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar porque em pleno dia se morre.
------------------------------------
Clarice Lispector
--------------------------------------

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Maktub

Bateste à porta na madrugada de um dia estranho.
Mas bateste à porta, sem pedir autorização.
Eu entreabri a porta dos meus olhos e por entre a cortina das minha pálpebras foste espreitando, sentindo, fumando, cheirando, olhando, perfumando, saboreando.
Utilizaste-os todos, sim a eles:
- Os sentidos…
Abri a porta…
Espreitaste, olhaste, sentiste, fumaste, perfumaste, cheiraste e saboreaste, entraste.
Falaste, falámos, respondi e tu não.
Falei, senti, cheirei, fumei, saboreei evadiste e eu não.
Foste.
Foste e enigmaticamente ias e vinhas…
Eu fui ficando.
Eu fui sonhando
Eu fui fumando.
Eu fui fechando a porta de meus olhos e por fim a cortina das minhas pálpebras quase se tinha colado.
Fechei a porta.
As pálpebras fecharam e as suas sedas deixaram de deixar entrar a luz. Aquela luz!
Outras luzes entravam, e a sensibilidade à luz, à tua luz, tinha deixado de existir.
Bateste à porta…
Desta vez anunciando-te…
Entreabri e porta e de súbito abri-a.
Entraste.
Já não espreitaste!
Entraste e abri o meu porto de abrigo.
Desarrumaste docemente a minha vida e eu docemente deixei, e mesmo docemente desejei, porque no meu porto de abrigo só entram veleiros que têm vela colorida.
Para desfrutar de um veleiro com vela colorida é preciso amarar…
E tu amaraste!
O veleiro tem vela colorida, de várias cores, de muitas cores, sem preto nem branco. Essas são simplesmente características da luz. Mas é um veleiro com vela colorida.
A cama está desfeita, desfeita sim e não a voltei a faze-la.
Mas mesmo desfeita, ela está por fazer…
Ela foi e é a banheira da tua água e a cuba da tua fadiga.
Maktub que um dia ela era desfeita!
Maktub que um dia batias à porta!
Maktub que um dia eu fechava a porta!
Maktub que um dia voltavas a bater!
Maktub que um dia eu voltava a abrir a porta!
Maktub que um dia ela era desfeita!
Maktub que um dia…
Maktub

---------------------------------------
"Folha Caída"
------------------------------

Quero um cavalo de várias cores

Quero um cavalo de várias cores,
Quero-o depressa que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.
Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva - nimbos e cerros -
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.
Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.
Deixem que eu parta, agora, já,
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sózinho

Sem um cavalo de várias cores?

------------------------------------------------

Reinaldo Ferreira

---------------------------------

sábado, 18 de julho de 2009


Nota:
Esta construção ( não me atrevo a chamar-lhe texto) está uma treta...
O português está ranhoso...
Mas é mesmo assim...
É a construção de uma desconstrução.
As ligações a preto, são a tentativa de dar algum sentido à coisa...
Nem sempre conseguido. Mas, olha como é só para brincar...
Que alguém que se reveja aqui corrija... ahahahaha.
Se tiver coragem...
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A vida dá muitas voltas…
E
Quando fazemos planos
Tudo muda,
Sem controlares nada!

E então
Tonta!
Olha e
Define bem!!!
Se
Nunca serei uma folha caída!
Não
Desculpa.
Mas
Ainda gosto de tu!
E
"Esse gesto eu sei qual é,
Mas se o disse já não é…"
Mas assim mesmo...
Obrigado pela ramela.
Que
Tive tanto trabalho a esconder...
E era
Para encontrares os defeitos
Mais tarde, mas
Tu foste uma brisa maravilhosa que senti no peito quando todas as janelas estavam fechadas.
E então...
Queria ter mais do que tive e agora nem ter o que tive posso!
Mas como
Sei fazer traços e linhas
E
Eu é que mudei a equação
Porque
Gosto mais do perna de pau…
Uma vez que
Tem morango!

Mesmo quando
Umas mil vezes já me passou isso pela cabeça
Que é
Uma característica
Que
Um dia
Uma manhã
Uma tarde
Uma noite
???
Ou
Mês e meio…
Que é pouco,
Mas podias levar-me ao teu esconderijo
Porque
Ainda custa mais!!!
Porque
Estavas cheia de medo
Que
Até tive medo de te tocar.

E
Sim.
Fui parvo,

Fui
Tretas,

Fui
Medricas.
Mas
O teu discurso foi estimulante
E
Surpreende-me,
Isto
Porque pensei mal
E então
Contigo vou onde me levares
Porque
Isto é passado
Sendo que
Esta historia não foi fácil pra mim
Nem
Só pra ti ...
Foi
Aqui e aí.
Porque
Julgas que me esqueci de ti

E então doi mas
Não é ferida

É
O meu coração

Ora…
E eu dei tudo
Tudo ou todo?
???
Todinho
Ah
Bem!!!!

Sim ou não?
Não
-----------------
"Folha Caída"
-----------------------------------