domingo, 2 de maio de 2010


Amo-te daqui até à lua!!!:) - feliz dia da mãe

Encontrei uma flor.
Flor essa que vi ser flor.
Vi essa flor perder pétalas,
Vi o crescer dos seus espinhos.
Encontrei-a e percebi que era a mais bela.
Mais bela não por ter as pétalas mais perfeitas,
Mas por ser a mais forte e a mais delicada ao mesmo tempo.
Por em seu vislumbre, conseguir sentir tudo.
Porque me deixo invadir pelo seu cheiro.
Por conseguir querer afagar a sua delicadeza num momento,
Como nos seguintes desejar que os seus espinhos trespassem a minha derme.
Não encontrei a flor perfeita.
O perfeito é para todos, logo não existe.
Existem sim muitos perfeitos.
Ela é perfeita!
Aos meus olhos é perfeita!
Ela sabe isso.
Sabe até quando o sol vem e timidamente ela tenta esconder o meu
sangue que ainda mora nos seus espinhos.
Mas o sol vem e seca-o.
Seca-o para nunca mais de lá sair.
E ai ela sabe... Sabe que para sempre eu estarei por perto.
"Bébé"

De mãe!
Certa vez perguntaram a uma mãe
qual era seu filho preferido,
aquele que ela mais amava.
E ela deixou entrever um sorriso,
respondeu:
"Nada é mais volúvel que um coração de mãe".
E como mãe lhe respondeu:
o filho predileto,
aquele a quem me dedico de corpo e alma é o meu filho doente até que sare
O que partiu,
até que volte
O que está cançado,
até que descanse
O que está com fome,
até que se alimente
O que está com sede,
até que beba
O que está estudando,
até que aprenda
O que está nu,
até que se vista
O que nao trabalha
até que se empregue
O que namora,
até que se case
O que casa
até que conviva
O que é pai,
até que os crie
O que prometeu,
até que cumpra
O que chore,
até que cale
E já com o semblante bem distante daquele sorriso completou:
O que me deixou,
até que o reencontre


"desconhecido"

domingo, 25 de abril de 2010

Amália /**Abandono**/

25 de Abril de 2010

Deveria escrever qualquer coisa para assinalar esta data, para mim tão importnte.
Mas, depois de ler este texto do meu amigo Eduardo Luciano, fiquei sem palavras. Aqui está tudo.
Com sua autorização, publico-o aqui no meu "cantinho"

"E já passaram 36 anos sobre aquele momento libertador que muitos acreditaram ser o passo para uma outra sociedade.
A distância da data histórica permite que quase todos comemorem, comemorando coisas diferentes. Há quem comemore a liberdade, há quem comemore o sonho que parecia possível, até há quem comemore o contrário dos ideais de Abril.
Também há os que aproveitem a data para aprofundar o processo de revisionismo histórico, para plantarem “heróis” convenientes em cenários onde nunca estiveram.
Muitos de nós caímos na tentação de ficar presos na lembrança de momentos de entusiasmo irrepetível, de solidariedades que pareciam não ter fim, de transformações políticas que pareciam acontecer por milagre.
Recordamos cantores e canções, alguns deles desafinam hoje o que afinavam naquela época e falam desse tempo como quem fala de um momento de passageira loucura.
Também recordamos, algumas vezes com uma frase que envolve referência às progenitoras, aqueles camaradas que pareciam ter a revolução a correr-lhes nas veias, que eram mais revolucionários que a própria ideia de revolução e que afinal, quando os ventos mudaram, eles mudaram ainda mais depressa que o vento.
Nas escolas a maioria dos professores transmitirá aos alunos o que é consensual na comemoração e ocultará o que de mais exaltante aconteceu, porque falar em reforma agrária, nacionalizações, controlo operário, não é politicamente correcto.
Não fujo a nenhuma destas vertentes da comemoração. Também regresso à adolescência, também povoo a memória de canções, de episódios, de frases escritas numa parede.
Apesar dessa incontornável nostalgia, prefiro festejar o Abril que falta cumprir. Prefiro festejar a disponibilidade de continuar a acreditar num futuro onde a liberdade e a igualdade se encontrem, onde a democracia não se esgota em actos eleitorais e se cumpre na vertente política, cultural e económica.
Contrariamente ao que nos pretendem fazer crer, os tempos que vivemos hoje não são consequência da revolução de Abril. São uma consequência do que ficou por cumprir de Abril.
A melhor forma de festejarmos o 25 de Abril, não é a olhar para trás. É com os olhos postos no futuro, empenhados na sua construção, lutando para que se cumpram os seus ideais.
Cantemos a Grândola, não como um hino do passado, mas como um projecto cantado de uma sociedade que ainda não alcançámos.
A azinheira que já não sabia a idade e que nos fazia reféns da sua sombra, aligeirou-se, mudou de aspecto, modernizou-se e está mais liberal, mas continua a cumprir o seu papel.
Embora pareça, ainda não é o povo quem mais ordena, porque como dizia a canção do Sérgio, só há liberdade a sério quando houver /liberdade de mudar e decidir/ quando pertencer ao povo o que o povo produzir.
Abril não é passado. É o futuro de que não nos podemos permitir desistir."

"Eduardo Luciano"

sábado, 24 de abril de 2010

Hoje recebi um abraço

Etimologicamente, abraço é quando duas pessoas ficam parcial ou completamente nos braços uma da outra. É o envolvimento de uma pessoa nos braços de outra.
O abraço é a demonstração física de afecto, de cumprimento afectuoso, de carinho, de amor, de saudade, de protecção…
Mas o abraço, é muito mais que isso…
O abraço não é apenas um contacto fisco, mas o desejo de “abrir” a nossa intimidade. Como costumo dizer, um abraço permite-me “despir-me”. Mas como é óbvio, não nos despimos com qualquer pessoa, nem para qualquer pessoa. Logo, só abraçamos, uma pessoa especial.
Despir-me significa identificar-me, depositar confiança, e receber em troca essa mesma identificação e essa mesma confiança.
Se te abraço estou dizendo-te que confio em ti e que podes confiar em mim, que te podes despir que eu recolho a tua roupa e a vou arrumando no meu corpo, com carinho e compreensão, sem questionar se ela fica bem vestida, se as cores estão condizendo, se no aspecto final fica a harmonia.
Quando visto a tua roupa, eu vou tentando ser tu.
É uma troca, um compromisso, ainda que não haja toque.
Toque físico… Porque toque, não significa contacto…
Tocam-se os olhos, a voz, as mãos, a alma, a pele, as ideias, os pensamentos, a vontade, a sensação, o ser, o saber, o antes e o agora, e a necessidade ou não do amanhã.
Era noite, muito noite, senão já amanhã.
Ambos sabíamos que era preciso este abraço… Sabíamos que era preciso para perceber. Perceber se precisávamos… Creio que desde sempre sentimos essa necessidade.
Com este abraço muita coisa ficaria sentida. Era quase como um teste, uma aferição, uma apreciação, uma avaliação…
Ambos sabíamos necessário. Não o escondemos…
Hoje perguntaste-me se queria um abraço. Respondi que sim.
Fui abraçada, abracei, fui acariciada, acariciei, fui acarinhada, acarinhei, fui protegida, protegi…fui beijada, beijei.
E não te toquei… “O teu abraço, foi de certeza melhor que o teu abraço…”
Porque te abracei? Porque me deixei abraçar? Porque me ofereceste o teu abraço? Porque aceitei?
Ambos sabíamos necessário, urgente, premente, iminente, latente…
Como te disse, nada acontece por acaso e “a ponte é uma passagem…” “para a outra margem”
Um abraço, e estou a falar de um abraço somente emocional, transmite-me protecção.
Que contradição… Se me protege, porque me despe?
Porque despida, contigo, me senti protegida?
Com o teu abraço, fiquei mais forte. O teu abraço permitiu-me perceber-te melhor e perceber-me melhor… Perceber porque te quis abraçar e aceitei o teu abraço.
Fiquei mais rica.
Este abraço não soube o sabor da pele, dos corpos, mas soube o sabor da mente, o sabor da vontade de partilhar, o sabor da empatia.
No teu abraço, despiste-te. Despiste-te sem roupa, sem uma peça sequer uma gravata… Mas despiste a tua mente, o teu pensamento, a tua reflexão…
Não sei se vou voltar a despir-me e a ajudar a despir-te. Não sei se vais voltar a despir-te e a ajudar a despir-me. Não sei se vamos voltar a despir-nos…
Mas uma coisa digo, o teu abraço foi doce.
No teu abraço, li os teus olhos. No teu abraço li os teus lábios. No teu abraço, li a tua vontade e a tua contrariedade. No teu abraço li a tua (in) satisfação. No teu abraço li as tuas mãos, as tuas saudades, as tuas inseguranças. No teu abraço li a tua presença, o teu passado e o teu presente. No teu abraço li aquilo que quiseste que eu lesse… e subtilmente fizeste com que lesse. E olha que li e ouvi ler.
Quando me abraçaste, senti que tinhas vontade de o fazer. A certa altura senti que estavas na “tua praia”, envolvido naquele abraço. Depois foste-te afastando, como que se a intensidade do abraço fosse abrandando, fosses tendo menos necessidade de abraçar, até que partiste...
Que bonita e inteligente forma de comunicar…
Que bonita e inteligente forma de abraçar…
Gostaria de voltar a abraçar-te…
Hoje? Amanhã? Nunca?
Sempre.
Obrigada.

"Folha Caída"

Identidade
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

segunda-feira, 22 de março de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010


Zahir

“Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei”, “Maktub” e este … Ele tem a particularidade de ter bons títulos.
Em 2005, gostei do nome, ainda que não muito do autor (entenda-se o que escreve) …
E comprei. “Zahír”.
Comprei e li. Em 2005, achei que era um livro com uma mensagem interessante sobre a amizade, as relações humanas e a liberdade, mas que não me seduziu muito.
Hoje, 2010, disseste que me ias emprestar o “Zahír” para ler. Não disse que já tinha lido.
Um livro encerra sempre uma história. Uma história que é interiorizada pelo seu leitor, consoante o seu estado de espírito.
Os meus livros, são das poucas coisas que não consigo destruir, pôr no lixo, por a um canto… Não gosto muito de emprestar livros, porque enquanto os leio, vou fazendo anotações. Acaba por ser o meu contributo para a leitura. Um livro, nas minhas mãos, nunca fica igual…
Um livro meu, é sempre guardado no meu coração. É sempre guardado na prateleira e, de vez em quando, passo por lá, para dar uma vista de olhos às minhas anotações e quiçá ler um pedacito.
Há dois ou três dias, depois de me dizeres que eu deveria ler “Zahír”, passei pela prateleira. Ele olhou-me! Lá estava ele, de lombada triste, porque há muito que não saía…Peguei nele, com o carinho que sempre pego num livro.
Olhei-o bem de frente e tratei-o como se pela primeira vez lhe tocasse.
Gostei do grafismo, gostei do som, gostei da musicalidade.
Soou-me a nome de homem, soou-me a deserto, soou-me a cor de terra, soou-me a transcendente, soou-me a sobrenatural, soou-me romântico.
Soube-me a fruta tropical, soube-me a doce, soube-me a mel,
Pego nele com a mão direita, e com a mão esquerda, dedo polegar na contracapa e os restantes dedos na capa, deixo passar as folhas por entre o polegar. Finalmente viro-o para mim. Olho, e leio o título. Folheio-o, e lá cai o marcador que sempre fica entre as folhas dos livros que leio.
Decido aceitar o teu desafio e começo a reler, cinco anos depois de o ter lido. Eu sou outra… “Muita água já passou debaixo desta ponte…”
Sou outra e estou outra.
O meu zahír é outro…
Hoje, agora, apetecia-me oferecer ao meu zahír um ramo de rosas vermelhas.
Que as entregasses a um conjunto de pessoas que amas, que gostas, que respeitas, que admiras. Que esse ramo de rosas a ti voltasse…Por fim, que essas flores a mim tornassem. Sabes o que significaria? Eu sei. Mas não vou dizer.
Sabes que ao reler o “Zahír” me vejo, revejo, identifico.
Mas o curioso, é que me identifico com o personagem masculino. E agora???
Chove. Chove muito. Onde estará o meu zahír?
Descobri e redescobri conceitos, sensações que me passaram despercebidos na primeira leitura.
Descobri princípios, declarações, definições…
Sabes, ainda não terminei de reler. Mas sabes, vais ficar marcado indelevelmente neste livro. E sabes porquê?
Porque tanto tu no livro, como o livro em ti é zahír.

"Folha Caída"
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"As coisas importantes sempre ficam, o que vai embora são as coisas que julgávamos importantes, mas são inúteis."
“A liberdade tem um preço alto, tão alto quanto o preço da escravidão. A única diferença é que você paga com prazer e com um sorriso, mesmo quando é um sorriso manchado de lágrimas.”

"Paulo Coelho"

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ÍTACA

Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se subtil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.

Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quando houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.

"Konstantinos Kaváfis (1863-1933) "

sábado, 20 de fevereiro de 2010

domingo, 31 de janeiro de 2010


Resposta

Espero-te sempre que a tarde cai
na esperança de que caminhes para mim
ansioso e com pressa de ser acolhido.
Posso oferecer-te um regaço.
Posso oferecer-te um calor.
Posso oferecer-te o gole do vinho que sendo teu, me embriaga, feito das tuas uvas colhidas no calor de um sol que acaricia a minha face.
Trazes a ligeireza da gazela que pula por entre os vales, em busca de um abrigo que encontras no meu ser ainda adormecido.
Deslizo as minhas mãos pela tua face, em busca de um carinho
que encontro na delicadeza das tuas mãos e na doçura dos teus lábios,
quando tu buscas o sabor das águas e das pétalas,
escondidas nos meus sentidos.
Trazes o desejo e paixão nessa hora de sensualidade.
Quando as tuas mãos de mim fazem musica, dedilhando uma sonata de Bach, fazendo esquecer as horas mortas do meu quotidiano.
Os minutos eternos, quase anos, fazendo desfolhar as folhas do calendário, desejando que o tempo regresse ao tempo de poder sentir, ao tempo de poder viver, ao tempo de poder amar.
Chegas e afagas o meu peito, fazendo com que ele ainda pule ao som do cair das gotas do perfume das tuas rosas, e onde permanece o desejo de um pulsar contínuo.
Partes, deixando um vazio doce preenchido com o desejo do regresso e…
Espero-te sempre que a tarde cai.

“Folha Caída”

Noite de Sonhos Voada

Noite de sonhos voada
cingida por músculos de aço,
profunda distância rouca
da palavra estrangulada
pela boca amordaçada
noutra boca,
ondas do ondear revolto
das ondas do corpo dela
tão dominado e tão solto
tão vencedor, tão vencido
e tão rebelde ao breve espaço
consentido
nesta angústia renovada
de encerrar
fechar
esmagar
o reluzir de uma estrela
num abraço
e a ternura deslumbrada
a doce, funda alegria
noite de sonhos voada
que pelos seus olhos sorria
ao romper de madrugada:
— Ó meu amor, já é dia!...

Manuel da Fonseca"

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


Gentilmente remetido pelo Eduardo
Sem título
Tomas-me sempre ao morrer da tarde
e caminhas por mim com passos apressados
ansiosa pelo meu desejo
quando eu te ofereço a noite
todo senhor
e um trago do meu vinho guardado
de uvas frescas de outono
Trazes a velocidade do tigre que alcança a presa
quando eu te recebo na branca paz
do meu ser adormecido
deslizas as tuas mãos por entre as minhas coxas
e a tua boca pelos meus lábios
quando eu velejo sem bússula
pelos quatro cantos dos teus sentidos
e sopro as as minhas pétalas pelo teu colo macio
Trazes desejo e paixão nessa hora de sensualidade
quando eu te toco como se fora música
e canto o meu bolero pelas curvas da tua carne
Esqueces as horas mortas do teu quotidiano de sempre
quando eu desfolho a minha vontade nua
consentida, facilitada, doce e confiadamente
E afogo no teu espelho de luz
os meus versos perfumados de rosas
e gravo no peito o som da tua partida
Que eu não aguento o vazio do caminho sem volta
Como uma gaivota fiel que sempre deixa
pegadas sobre a praia.

"Eduardo"