quarta-feira, 3 de outubro de 2012



RENASCER

Hoje, pela primeira vez, desde há muito tempo, apeteceu-me escrever algumas linhas sobre a minha vida ultimamente.
Não porque considere que devo publicamente expor o que vou vivendo ou sentido, mas porque por vários motivos e vicissitudes a minha vida alterou-se quase na sua totalidade. Parece que renasci de novo. Quando normalmente se utiliza esta expressão do “renasci de novo” está-se conotando essa “nova vida” como uma coisa positiva, a realização de um sonho, uma mudança extraordinária…  Não é o caso. É sim mesmo um novo “nascer”. É uma vida nova, sem destino programado, como que se fosse uma inevitabilidade sem controlo por minha parte.
Muito tempo passou sem que aqui, neste meu “cantinho” colocasse alguma coisa. Já tinha saudades deste meu “cantinho”, que algumas vezes visito com nostalgia. Não sou escritora!
Só escrevo estas humildes palavras porque é um passatempo de que gosto e porque me dá prazer por no papel aquilo que no momento estou a sentir ou a viver e que aprecio recordar quando visito este espaço.
Até aqui tenho escrito “coisas” que se misturam entre sonhos, realidades, invenções, fábulas ou lá o que se possa chamar…
Mas hoje vou escrevinhar realidades e verdades, para mim, claro.
Não vou dizer o que se passou na minha vida desde a última vez que aqui coloquei algumas palavras até este momento. Não é, para o caso importante. Vou partir deste momento, com algumas alusões aos últimos nove meses.
Ponto final!
É sábado. São dezasseis horas mais ou menos do dia vinte e nove. Estamos em Setembro de dois mil e doze. Está calor e sol.
Estou em Moçambique. Na Província de Nampula, na cidade de Nampula. Estou em casa do Rui e do Álvaro. Quem é o Rui e o Álvaro? Eu sei quem são.
Toda a gente sabe ou tem possibilidade de saber se lhe interessar, onde é Moçambique e onde é Nampula.
Para mim. Este local tem uma característica, que se resume a esta frase:
- Ou se ama e fica-se… ou se odeia e parte-se logo que haja possibilidade…
Eu amei África desde que, sobrevoando o território entre Nairobi a Nampula, fui beijada por aquele gigantesco maço de algodão, envolto numa pelicula azul com inscrições verde marinho daquela água que por baixo de mim corria, não sei de onde para onde.
Vim com ela e desaguei num porto seco, cor de Gauguin .
Logo percebi que estava em porto seguro e qual frase feita, “em casa”.
Dá para perguntar e eu pergunto-me isso a mim mesma muitas vezes porquê. Sinto porquê… mas não sei por em palavras. Ainda. Mas creio que vou um dia destes vou conseguir...

sábado, 4 de fevereiro de 2012




A Sua visita

A morte tem vários significados, conforme dicionário, corresponde a falecimento, a passamento, ou ainda a desencarne.
No entanto, corresponde sempre a um cessar, sempre, das atividades biológicas necessárias à manutenção da vida de um organismo.
Todos nós, mais cedo ou mais tarde somos confrontados com tal evento.
É comum ouvirmos dizer que estamos ou não estamos preparados para tal facto.
Para a nossa (morte) não creio que alguma vez estejamos preparados.
Para sentir a morte, de outros, ainda que o digamos… creio que na maior parte das vezes também não estamos preparados para tal.
A nossa cultura não nos educa para essa situação.
A morte está sempre presente e enraizada na nossa vida e a ela damos um grande significado porque ela encerra o medo, a dúvida, a incerteza, a necessidade de acredita ou não “vida” para além dela.
“Festejamos” a morte com manifestações religiosas, com manifestações sensoriais, com manifestações individuais.
A morte tem dias… de finados ou de todos os santos, da ressurreição, semana santa, aniversários de morte, e outras manifestações.
Culturas há que festejam a morte como um momento de passagem, onde se recorda o encontro com o ente que parte, onde a dor não é exteriorizada como na nossa cultura…
Pensarão, com toda a razão, o que me leva a escrever, ou melhor dizendo, a desabafar para este meu espaço, sobre tema tão mórbido.
Verdade!
Por uma situação pessoal estou passando de perto por ela.
Ela:sim a morte.
Estou passando mesmo pertinho dela e sentindo uma dor imensa.
Esta vizinhança tem-me feito pensar muito…
Penso em mim…
Penso no outro…
Penso em nós…
Penso nos outros…
Penso como será?
Penso o que virei a sentir…
Penso como poderei ajudar-me a mim e aos outros…
Penso e com muito afinco na justeza da morte… e nas suas escolhas.
Mas sobretudo penso que a vida tem-me vindo a ensinar que efetivamente a nossa passagem por este mundo é efémera. Para uns mais que para outros.
E, eu, ”pecadora me confesso” também me incluo naqueles que somente quando Ela me visita me questiono e tento dar um sentido a esta realidade.
Então? Porque fazemos da nossa vida do dia-a-dia uma corrida desenfreada contra o tempo e contra tudo e todos?
Eu sei que não tenho moralidade para escrever isto, porque afinal de contas, eu sou somente uma entre milhões que o fazem…
Mas não deixo de pensar nisso
A morte vem…
E chega quando menos esperamos.
Independentemente da idade, da cor, da raça, da religião, da condição socio-económica…
Ela está sempre presente no infinito de cada um de nós.
Então porque tiramos a vida uns aos outros se ela (a dita) é um dado adquirido em todos?
Então porque o mundo não é melhor?
Agora digo-te a Ti:
Vai embora, vai… sai da minha vida…
 
Receita para fazer um herói

Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.

Serve-se morto
"Reinaldo Ferreira"