sábado, 27 de junho de 2009


Uma busca incessante

Um dia conheci uma mulher, da minha idade, mais ano menos ano.
Não sei bem a sua idade e também não é relevante.
A idade, ainda que a marca dos anos lá esteja, porque fisiologicamente, eles, os anos, são eles mesmos, (trezentos e sessenta e cinco dias vezes n.), depende dos comportamentos e muito da personalidade de cada um…
Quantas vezes já vimos jovens velhos e velhos jovens?
Conheci essa, que depois foi, amiga, ou melhor, penso que vou conhecendo…
Fui conhecendo… fui gostando… fui não gostando… fui adorando… fui detestando... fui admirando… fui ficando revoltada com as suas atitudes… fui-me afastando…fui ficando com ela…
Um conjunto de sentimentos, uns contraditórios outros nem tanto… Mas não a fui perdendo de vista até hoje…
Quando me comecei a relacionar mais com ela, soube algumas coisas a seu respeito.
Era uma pessoa que, no padrão da nossa sociedade ocidental, era considerada normal…
O que é a normalidade?!
Tinha a sua vida sem extravagâncias… Seguindo os padrões de vida normal… Mais ou menos certinha.
Tinha os seus amigos, o seu emprego, a sua família, e considerava que tinha tudo.
Um dia, sentadas no café (palavra com pelo menos dois sentidos), onde bebíamos mesmo um café, começamos por falar da vida.
O que era a vida, para que servia a vida, o que se esperava da vida, o que esperávamos da nossa vida, sim da nossa… eu da minha e ela da dela, qual o sentido que lhe dávamos, qual o sentido que aqueles que também estavam naquele local lhe davam, o que sentiriam em relação à vida, caso lhes perguntássemos…
Esta conversa durou horas… E ainda hoje lá estaríamos se quiséssemos chegar a conclusões definitivas…
Nesse dia conheci-a melhor… E penso que a ajudei a conhecer-se também melhor a si mesma…
Pretensão minha? Quem sabe…
Hoje voltei a sentar-me com ela no mesmo café.
Já passou algum tempo sobre aquela nossa conversa.
O que mudou?
O que mudou nela?
Que mudou em mim?
O que mudou naquilo que eu pensava dela?
E no que eu pensava de mim mesma?…
Sim, porque as conversas que se têm sobre qualquer tema, desde que conversas, excluindo aquelas a que vulgarmente se aplica a frase “deitar conversa fora”, têm como corolário a troca de ideias, que leva a consciencializações e a aprofundamento de conceitos.
Creio que depois de uma conversa como a que costumo chamar de “higiénica”, cada um dos intervenientes não permanece como antes… Algo muda.

Aumenta o conhecimento… aumentam as duvidas, outras se dissipam…
Nada fica como antes, até porque o tempo “rola”.
Lá estava o café. Não o mesmo! (nem o café é o mesmo!…)
Mas parecido.!
Voltámos ao mesmo tema.
Sim. Estamos diferentes…
Ela, porque é dela que vou atrever-me a falar…
Eu gosto dela. Acho que somos amigas… e por isso vou atrever-me.
Ela está muito diferente.

Diferente, mas
Muito mais baralhada. Acordou?
Creio que sim…

Mais complicada?
Creio que sim…
Porquê?
Porque se questionou, pôs em dúvida, arriscou, assumiu, experimentou, pensou, atreveu-se…
Está mais feliz?
Não creio.

Mas de uma coisa tenho certeza. Já sentiu muito bem a diferença entre estar muito bem e estar muito mal. Antes, só sabia estar…
Tudo isto porque me apetece tecer algumas considerações acerca do que qualquer um de nós que viva, de onde excluo aqueles que deixam a vida passar por eles, ou que passam pela vida, busca no dia-a-dia.
É uma busca incessante de quê?
Não sei.
Já me perguntaram o que procuro eu na vida, e de certeza que esta pergunta já foi feita a todos vós em qualquer altura e que cada um de nós já fez a si mesmo.
Muitas respostas a esta pergunta conduzem a: “a Felicidade”, considerando o patamar mais ambicioso que a vida nos proporciona.
Vou ironizar ou não, atrevendo-me a dizer que o problema da incessante busca da Felicidade está na palavra. Na palavra enquanto conceito, sinónimo, definição, e na necessidade que o ser humano tem em dar nome às coisas…
O dar nome às coisas, ainda que a sentimentos, conduz-nos à necessidade de as tocarmos, sentirmos, palparmos…e experimentarmos ou decidir não experimentar….
E daí, com definições, surge a mensurabilidade.
Ou seja, surge-nos a ideia de que, o que existe e tem definição, é palpável.
O que é palpável é mensurável. Se é mensurável, surgem as comparações e os padrões…
Mas esquecemo-nos que, nem tudo o que “tem nome” é palpável, mensurável…
Qual a unidade de medida do amor, da amizade, da dor, do sofrimento e da Felicidade?
Eu não sei. (sem recorrer à poesia…)
A nossa conversa continuou, agora já com outras variáveis, porque estamos diferentes, pensamos diferente, sentimos diferente, e vemos diferente.
Afinal que procura ela? Que busca é a dela?
Ela mesma assumiu. Não sabe o que procura, mas sabe que procura. Anda em busca do “Nada”.
Mais uma vez me vou atrever… Correndo o risco de ouvir dizer: Pois… “faz o que eu digo e não faças o que eu faço!”.
O que se busca? Nada se não soubermos o caminho…
Alguém um dia disse mais ou menos isto: “Se não souberes o que procuras… qualquer caminho serve…”
Não. Não pode ser.
Para se saber o caminho, há que ter e definir duas coisas.
Acção e vontade.
Vontade de rir, de chorar, de conhecer, de falar, de transmitir, de evoluir, de dar a conhecer, de escrever, de ler, de pensar, de ouvir, de mexer…
Vontade que levará à Acção, à tomada de posição.
A concretização destas duas variáveis, a meu ver, levam à definição do caminho.
Definido o caminho, sei “ a estrada que devo tomar”.
Essa “estrada” tem um destino…
Mas, não é tão linear…
É muito mais complicado.
Os Terráqueos estão Loucos… Sim Loucos… e Eu também…
Estamos impregnados de correrias, manias, birrices, maluquices, burrices, excessos, fobias, alergias, e uma quantidade de ias, ices, e essos.
O ser humano possui a capacidade de experimentar sentimentos bastante variados. Mas na realidade, esse conjunto de sentimentos resumem-se a dois, e desses dois emanam, como consequência, os outros. É o Medo e o Amor. (teria que escrever muito para defender esta afirmação, mas não o vou fazer… Concorde-se ou não, esta é a minha opinião e não a vou comentar).
Como nada disto tem receita, como o ser humano é uno, a busca incessante pela Felicidade continua…
“Por que todas as eminências em filosofia, política, poesia e artes carregam tanta melancolia?”, diz um clássico texto grego atribuído a Aristóteles.
O que seria de génios como Beethoven, Van Gogh e Emily Dickinson sem um bocado de desilusões e infelicidade ?
Vou um dia (…) perguntar a Vinicius de Moraes e Tom Jobim, porque “tristeza não tem fim, felicidade sim”?
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“Folha Caída”
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Vivo na esperança de um gesto

Vivo na esperança de um gesto
Que hás-de fazer.
Gesto, claro, é maneira de dizer,
Pois o que importa é o resto
Que esse gesto tem de ter.
Tem que ter sinceridade
Sem parecer premeditado;
E tem que ser convincente,
Mas de maneira diferente
Do discurso preparado.
Sem me alargar, não resisto
À tentação de dizer
Que o gesto não é só isto...
Quando tu, em confusão,
Sabendo que estou à espera,
Me mostras que só hesitas
Por não saber começar,
Que tentações de falar!
Porque enfim, como adivinhas,
Esse gesto eu sei qual é,
Mas se o disser, já não é...
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“Reinaldo Ferreira”
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