sábado, 18 de julho de 2009


Voltaste

Voltaste numa noite em que estava vento. Eventualmente por isso…
Vieste com ele. Vieste trazer-me o cheiro daquele perfume que tão pouco senti, mas que se entranhou em mim a ponto de ainda hoje cá estar.
Está, não sei se nas minhas vestes, se na minha pele, se na minha mente.
Mas voltaste e eu deixei que voltasses…
A vida tem destas coisas…
Voltaste trazendo o doce do mel da abelha ainda no favo.
Voltaste quando já não te esperava, ainda que lá bem fundo eu tivesse a certeza que voltarias. Não sabia quando nem como. …mas que voltarias. Quem sabe?
Voltaste e foste mais do que tu.
Voltaste e ofereci-te o meu ombro. Sabia que precisavas… Aceitaste.
Mas precisavas para quê?
Ainda não sei.
Abriste o teu coração, foste mais do que tu.
Eu também disse mais do que costumo dizer…
Também precisava que voltasses…
E porque voltaste agora?
Voltaste quando não deve haver volta?
Mas não pudeste voltar antes, não foi?
Porque quando vieste já não podias vir não era?
Mas vieste. E depois tiveste que ir…
E foste deixando rasto, deixando cheiro, deixando um dia por viver, deixando um caminho por percorrer, uma terra por cheirar.
Mas, como intransitivo que és, voltaste, regressaste, viraste, reapareceste (intransitivo? Tu ou o verbo? Sei lá).
Como transitivo que também és, voltaste à posição anterior…
Mas voltaste e voltaste duas vezes, transitivo e intransitivo…
Como a gramática é interessante!!!!
Olha, transitivo e intransitivo, fica! Está bem?
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"Folha Caída"
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LETRA PARA UM HINO
É possível falar sem um nó na garganta
É possível amar sem que venham proibir.
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão.
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros.
Se te apetece dizer não, grita comigo: não!

É possível viver de outro modo.
É possível transformar em arma a tua mão.
É possível viver o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre, livre, livre.
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Manuel Alegre, "O Canto e as Armas"
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