domingo, 21 de fevereiro de 2010


Zahir

“Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei”, “Maktub” e este … Ele tem a particularidade de ter bons títulos.
Em 2005, gostei do nome, ainda que não muito do autor (entenda-se o que escreve) …
E comprei. “Zahír”.
Comprei e li. Em 2005, achei que era um livro com uma mensagem interessante sobre a amizade, as relações humanas e a liberdade, mas que não me seduziu muito.
Hoje, 2010, disseste que me ias emprestar o “Zahír” para ler. Não disse que já tinha lido.
Um livro encerra sempre uma história. Uma história que é interiorizada pelo seu leitor, consoante o seu estado de espírito.
Os meus livros, são das poucas coisas que não consigo destruir, pôr no lixo, por a um canto… Não gosto muito de emprestar livros, porque enquanto os leio, vou fazendo anotações. Acaba por ser o meu contributo para a leitura. Um livro, nas minhas mãos, nunca fica igual…
Um livro meu, é sempre guardado no meu coração. É sempre guardado na prateleira e, de vez em quando, passo por lá, para dar uma vista de olhos às minhas anotações e quiçá ler um pedacito.
Há dois ou três dias, depois de me dizeres que eu deveria ler “Zahír”, passei pela prateleira. Ele olhou-me! Lá estava ele, de lombada triste, porque há muito que não saía…Peguei nele, com o carinho que sempre pego num livro.
Olhei-o bem de frente e tratei-o como se pela primeira vez lhe tocasse.
Gostei do grafismo, gostei do som, gostei da musicalidade.
Soou-me a nome de homem, soou-me a deserto, soou-me a cor de terra, soou-me a transcendente, soou-me a sobrenatural, soou-me romântico.
Soube-me a fruta tropical, soube-me a doce, soube-me a mel,
Pego nele com a mão direita, e com a mão esquerda, dedo polegar na contracapa e os restantes dedos na capa, deixo passar as folhas por entre o polegar. Finalmente viro-o para mim. Olho, e leio o título. Folheio-o, e lá cai o marcador que sempre fica entre as folhas dos livros que leio.
Decido aceitar o teu desafio e começo a reler, cinco anos depois de o ter lido. Eu sou outra… “Muita água já passou debaixo desta ponte…”
Sou outra e estou outra.
O meu zahír é outro…
Hoje, agora, apetecia-me oferecer ao meu zahír um ramo de rosas vermelhas.
Que as entregasses a um conjunto de pessoas que amas, que gostas, que respeitas, que admiras. Que esse ramo de rosas a ti voltasse…Por fim, que essas flores a mim tornassem. Sabes o que significaria? Eu sei. Mas não vou dizer.
Sabes que ao reler o “Zahír” me vejo, revejo, identifico.
Mas o curioso, é que me identifico com o personagem masculino. E agora???
Chove. Chove muito. Onde estará o meu zahír?
Descobri e redescobri conceitos, sensações que me passaram despercebidos na primeira leitura.
Descobri princípios, declarações, definições…
Sabes, ainda não terminei de reler. Mas sabes, vais ficar marcado indelevelmente neste livro. E sabes porquê?
Porque tanto tu no livro, como o livro em ti é zahír.

"Folha Caída"
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"As coisas importantes sempre ficam, o que vai embora são as coisas que julgávamos importantes, mas são inúteis."
“A liberdade tem um preço alto, tão alto quanto o preço da escravidão. A única diferença é que você paga com prazer e com um sorriso, mesmo quando é um sorriso manchado de lágrimas.”

"Paulo Coelho"

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ÍTACA

Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se subtil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.

Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quando houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.

"Konstantinos Kaváfis (1863-1933) "

sábado, 20 de fevereiro de 2010