domingo, 31 de janeiro de 2010


Resposta

Espero-te sempre que a tarde cai
na esperança de que caminhes para mim
ansioso e com pressa de ser acolhido.
Posso oferecer-te um regaço.
Posso oferecer-te um calor.
Posso oferecer-te o gole do vinho que sendo teu, me embriaga, feito das tuas uvas colhidas no calor de um sol que acaricia a minha face.
Trazes a ligeireza da gazela que pula por entre os vales, em busca de um abrigo que encontras no meu ser ainda adormecido.
Deslizo as minhas mãos pela tua face, em busca de um carinho
que encontro na delicadeza das tuas mãos e na doçura dos teus lábios,
quando tu buscas o sabor das águas e das pétalas,
escondidas nos meus sentidos.
Trazes o desejo e paixão nessa hora de sensualidade.
Quando as tuas mãos de mim fazem musica, dedilhando uma sonata de Bach, fazendo esquecer as horas mortas do meu quotidiano.
Os minutos eternos, quase anos, fazendo desfolhar as folhas do calendário, desejando que o tempo regresse ao tempo de poder sentir, ao tempo de poder viver, ao tempo de poder amar.
Chegas e afagas o meu peito, fazendo com que ele ainda pule ao som do cair das gotas do perfume das tuas rosas, e onde permanece o desejo de um pulsar contínuo.
Partes, deixando um vazio doce preenchido com o desejo do regresso e…
Espero-te sempre que a tarde cai.

“Folha Caída”

Noite de Sonhos Voada

Noite de sonhos voada
cingida por músculos de aço,
profunda distância rouca
da palavra estrangulada
pela boca amordaçada
noutra boca,
ondas do ondear revolto
das ondas do corpo dela
tão dominado e tão solto
tão vencedor, tão vencido
e tão rebelde ao breve espaço
consentido
nesta angústia renovada
de encerrar
fechar
esmagar
o reluzir de uma estrela
num abraço
e a ternura deslumbrada
a doce, funda alegria
noite de sonhos voada
que pelos seus olhos sorria
ao romper de madrugada:
— Ó meu amor, já é dia!...

Manuel da Fonseca"

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


Gentilmente remetido pelo Eduardo
Sem título
Tomas-me sempre ao morrer da tarde
e caminhas por mim com passos apressados
ansiosa pelo meu desejo
quando eu te ofereço a noite
todo senhor
e um trago do meu vinho guardado
de uvas frescas de outono
Trazes a velocidade do tigre que alcança a presa
quando eu te recebo na branca paz
do meu ser adormecido
deslizas as tuas mãos por entre as minhas coxas
e a tua boca pelos meus lábios
quando eu velejo sem bússula
pelos quatro cantos dos teus sentidos
e sopro as as minhas pétalas pelo teu colo macio
Trazes desejo e paixão nessa hora de sensualidade
quando eu te toco como se fora música
e canto o meu bolero pelas curvas da tua carne
Esqueces as horas mortas do teu quotidiano de sempre
quando eu desfolho a minha vontade nua
consentida, facilitada, doce e confiadamente
E afogo no teu espelho de luz
os meus versos perfumados de rosas
e gravo no peito o som da tua partida
Que eu não aguento o vazio do caminho sem volta
Como uma gaivota fiel que sempre deixa
pegadas sobre a praia.

"Eduardo"