sábado, 4 de fevereiro de 2012




A Sua visita

A morte tem vários significados, conforme dicionário, corresponde a falecimento, a passamento, ou ainda a desencarne.
No entanto, corresponde sempre a um cessar, sempre, das atividades biológicas necessárias à manutenção da vida de um organismo.
Todos nós, mais cedo ou mais tarde somos confrontados com tal evento.
É comum ouvirmos dizer que estamos ou não estamos preparados para tal facto.
Para a nossa (morte) não creio que alguma vez estejamos preparados.
Para sentir a morte, de outros, ainda que o digamos… creio que na maior parte das vezes também não estamos preparados para tal.
A nossa cultura não nos educa para essa situação.
A morte está sempre presente e enraizada na nossa vida e a ela damos um grande significado porque ela encerra o medo, a dúvida, a incerteza, a necessidade de acredita ou não “vida” para além dela.
“Festejamos” a morte com manifestações religiosas, com manifestações sensoriais, com manifestações individuais.
A morte tem dias… de finados ou de todos os santos, da ressurreição, semana santa, aniversários de morte, e outras manifestações.
Culturas há que festejam a morte como um momento de passagem, onde se recorda o encontro com o ente que parte, onde a dor não é exteriorizada como na nossa cultura…
Pensarão, com toda a razão, o que me leva a escrever, ou melhor dizendo, a desabafar para este meu espaço, sobre tema tão mórbido.
Verdade!
Por uma situação pessoal estou passando de perto por ela.
Ela:sim a morte.
Estou passando mesmo pertinho dela e sentindo uma dor imensa.
Esta vizinhança tem-me feito pensar muito…
Penso em mim…
Penso no outro…
Penso em nós…
Penso nos outros…
Penso como será?
Penso o que virei a sentir…
Penso como poderei ajudar-me a mim e aos outros…
Penso e com muito afinco na justeza da morte… e nas suas escolhas.
Mas sobretudo penso que a vida tem-me vindo a ensinar que efetivamente a nossa passagem por este mundo é efémera. Para uns mais que para outros.
E, eu, ”pecadora me confesso” também me incluo naqueles que somente quando Ela me visita me questiono e tento dar um sentido a esta realidade.
Então? Porque fazemos da nossa vida do dia-a-dia uma corrida desenfreada contra o tempo e contra tudo e todos?
Eu sei que não tenho moralidade para escrever isto, porque afinal de contas, eu sou somente uma entre milhões que o fazem…
Mas não deixo de pensar nisso
A morte vem…
E chega quando menos esperamos.
Independentemente da idade, da cor, da raça, da religião, da condição socio-económica…
Ela está sempre presente no infinito de cada um de nós.
Então porque tiramos a vida uns aos outros se ela (a dita) é um dado adquirido em todos?
Então porque o mundo não é melhor?
Agora digo-te a Ti:
Vai embora, vai… sai da minha vida…
 
Receita para fazer um herói

Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.

Serve-se morto
"Reinaldo Ferreira"