sábado, 28 de novembro de 2009


Queres namorar comigo hoje?


A sociedade evolui. A escrita evolui. As palavras evoluem. Os sentimentos também.
Queres namorar comigo hoje?

Algumas palavras, concentram experiências comunitárias, que não têm equivalentes na unidade lexical de outras línguas, e são o fruto de sequências comportamentais, acções e cenas recorrentes, que fazem a aparência "material" da língua, assumir uma dada configuração.
Como exemplo, pode referir-se a situação do povo Boro, da Índia, que tem um vocabulário, aparentemente bem mais atento às nuances dos sentimentos do que muitas outras línguas. Para eles, onsay significa "fingir amar"; ongubsy, "amar de verdade" e onsia, "amar pela última vez".
Queres namorar comigo hoje?

Através da linguagem verbal o homem recria o universo e age sobre ele.
O significado da palavra namoro, hoje, tem um sentido perfeitamente distinto daquele que tinha no tempo dos nossos pais e avós, para não ir mais longe – porque aí outros parâmetros também tinham que ser considerados.
Queres namorar comigo hoje?

Já Rui Veloso e muito bem, na sua canção diz : “já não há cartas de amor, como havia antigamente.”
O conceito clássico de namoro está hoje depreciado. Hoje, falar de namoro, é falar de uma brincadeira, com vista a encontrar o prazer caprichoso, sem intenções sérias, e não tendo como fim o noivado e por consequência ao casamento.
Queres namorar comigo hoje?

O namoro, conforme o conhecemos hoje, é um acontecimento recente e moderno.
Namorar, hoje, é um acto mais do que banal.

Mudanças comportamentais, libertação sexual (conquistada com o feminismo), avanços tecnológicos, quebra de tabus, rapidez de evolução cultural, onde o imediatismo dá o tom de descartabilização, num universo de liberdade e múltiplas escolhas, fazem com que os relacionamentos afectivos ganhem novas conotações .
Queres namorar comigo hoje?

As tradicionais etapas de namoro, noivado e casamento, conhecidas na época dos nossos pais e avós, hoje desdobram-se noutros verbos conjugados, como ficar, andar, estar e morar juntos, que não precisam, necessariamente, seguir esta ordem, nem, muito menos, culminar num compromisso como o casamento ou morar juntos para o resto da vida, ou ainda por um longo período.
Queres namorar comigo hoje?

No entanto, mesmo com o romantismo em desuso, a busca e a procura do amor, bem como o namoro, continuam uma constante nas relações humanas, independente da idade, do sexo ou da religião.
O que muda com todo este amontoado de transformações, é a forma como se busca este amor.
Queres namorar comigo hoje?

Hoje as pessoas relacionam-se vendo o outro como um objecto/sujeito que deve suprir as suas necessidades para ficar ao seu lado. Não se vê o amor como complementação. É a coisificação do ser humano, bem patente quando as pessoas que acabam de se conhecer trocam beijos e carícias, em suma, intimidades, sem qualquer compromisso.
Queres namorar comigo hoje?

Pode fazer-se a relação com um test-drive de carros, só que, com pessoas, onde aquele que cumpre as exigências necessárias, que geralmente são beleza, inteligência, estabilidade financeira e um 'beijo bom' tem maiores chances de chegar a ser namorado, do que alguém para se conhecer e levar a sério, sendo quase como entrar numa loja e escolher um produto.
Neste extremo, o namoro resume-se a uma fêmea, um macho, ou duas fémeas e dois machos.
Neste extremo, o namoro resume-se a um número. É um holograma de carne, um corpo, uma boca, um par de mamas, um par de cochas...

Levado ao extremo, o que hoje chamamos namoro, antes, era visto como fornicação, que era aquilo que em Roma acontecia sob o fórnice, ou seja a curvatura de um arco, como nas pontes; lugar no qual, em geral, era possível fazer sexo em pé, com uma mulher, paga ou não. Daí vem a palavra fornicação.
Queres namorar comigo hoje?

Convém referir e reafirmar que a minha opinião do que está acontecendo, nas questões do relacionamento, não é baseada num olhar moralista, que não possuo, nem numa concepção de julgamento que não me é autorizada (atire a primeira pedra quem nunca pecou – dir-se-ia), mas sim com o olhar de quem vê e desapaixonado.
Queres namorar comigo hoje?

Mas mais uma vez, desapaixonadamente, me questiono sobre os reflexos e os estragos que estas relações e experiencias afectivas desastrosas, no extremo, podem causar especialmente nos menos preparados e imaturos e nos mais jovens.
Queres namorar comigo hoje?

Questiono-me se estes desencontros e desenraizamentos de valores não serão, em parte, responsáveis pelas frustrações, pelas decepções e pelos desamparos de afectos, onde a solidão e isolamento são uma constante nesta nossa sociedade, necessitada de se sustentar nalgumas verdades e conceitos criados, e materializá-los para que viva com equilíbrio, físico e emocional.
Mas…
Há sempre um mas.
Ainda há os que namoram com amor e com carinho, com amizade e desejo, com cuidado e esperança, com apego ao hoje e vontade de que haja muitos amanhãs, quem sabe para sempre.
Queres namorar comigo hoje?

De uma maneira ou outra e o mais importante, é que as pessoas se amem, com respeito, carinho, dádiva, companheirismo, amizade, fraternidade e já agora… com um pouco de romantismo.

Queres namorar comigo hoje?

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"Folha Caída"

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Se você quer ser minha namorada

Ai, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exactamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarzinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porquê
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.

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"Vinicius de Morais "

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2 comentários:

drengo disse...

Algo que sinto quase todos os dias, nos lugares onde ainda me vou perdendo.
Cada vez mais, vive-se "hoje". Talvez por isso eu goste de pensar também em "amanhã", afinal...

Beijinho.

Folha Caída disse...

Obrigada Jorge pelo comentário
Continua a perder-te...se te faz sentir bem.
Acredito que sim
beijinho