sábado, 8 de novembro de 2008

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QUARTA-FEIRA


Tudo fazia crer que seria um dia interessante.
É quarta-feira.
O céu está nublado, por vezes com chuviscos aqui e ali.
Não está frio, a temperatura está amena. Tudo fazia crer que seria um dia interessante.
O sol brilha, escondendo-se de vez em quando atrás de um novelo de lã cinzenta.
Mas assim mesmo, tudo fazia crer que seria um dia interessante.
São três e meia, tudo faz crer que será uma tarde interessante.
São quatro e… tudo faz crer que será uma tarde interessante.
São cinco horas.
Se fosse diferente, ainda tudo poderia fazer querer que fosse uma tarde interessante.
Mas não foi diferente…
Instala-se a dúvida, o nervoso, a conversa sem conteúdo, as banalidades, o dia-a-dia, as futilidades…
Sabe-se que esse estado de espírito não leva a um fim interessante, mas, deixa-se que ele se instale, porque,
Não sei se tudo fazia querer que seria uma tarde interessante.
Culpa?
De quem?
Porquê?
Com que objectivo?
Qual é o fim?
Para onde vamos?
Há resposta?
Eu não tenho.
Mas tudo fazia crer que seria uma tarde interessante.
Há toda uma caminhada pela frente.
Os silêncios instalam-se e são quebrados por mais banalidades. Não há nada a dizer.
Mas ainda tudo fazia crer que seria uma tarde interessante.
Para onde vamos?
Com que objectivo?
Qual o fim?
Isto eu sei!
Mas também sei que tudo fazia crer que seria uma tarde interessante.
Sei ainda que nem tudo fazia querer que fosse uma tarde interessante.
A resposta não se fez esperar.
A lado nenhum.
Outro que não o confessado.
Qual o fim?
Mais tarde se saberá.
Por entre o embaraço e a frescura da noite que se aproxima, vem um café.
Para onde vamos?
A lado nenhum.
Só há tempo para um pequeno passeio, por entre as árvores e os labirintos dos riachos.
Ouve-se a água correr com tanta destreza como os pensamentos na cabeça de cada um.
Adivinha-se no leito daqueles riachos os seixos já cansados de tanto rolar.
Por isso fervilha a água que corre?
Por isso fervilham os pensamentos?
Ena!
- Tanta água!
- Por baixo daquela inda há mais.
Que energia tamanha é necessária para tanto fervilhar.
Tal fervilhar somente acalma quando mais um conjunto de banalidades é proferido e vem novamente o silêncio cortado pelo fervilhar… da água e do pensamento.
Tudo fazia crer que poderia ter sido uma tarde interessante.
Tudo fez querer que não fosse uma tarde interessante.
É noite.
Tudo fazia crer que seria uma noite interessante.
O interesse é medido pela capacidade de enriquecimento.
Se não se pode tomar um banho de emersão, porque não tomar um duche?
Mas…
Para decidir entre o banho e o duche tem que haver atitude.
Porque não há atitude?
Saberei?
Não. Sim. Talvez. Estarei certa? Estarei errada?
Não sei.
Tudo fazia crer que ainda poderia ser uma noite interessante.
Haverá possibilidade de tomar atitude se o medo assenta e marca posição?
Não creio. O medo pulula em todas as atitudes e em todos os sons. Ele está ali, latente.
Mas medo de quê?
Medo de assumir que esgotandas as banalidades nada mais há por dizer?
Então que estou eu a fazer aqui?
Então, tudo fazia querer que não fosse uma noite interessante!
Até onde vai a minha ânsia de conhecimento e enriquecimento?
Nada mais há para dizer além das frases de lugar comum?
Não há troca de ideias que não sejam todas, menos aquelas que interessam?
Medo?
Mas de quê?
E de quem?
É das respostas?
É das perguntas?
Ou não há já sequer lugar para tanto?
Tudo fazia crer que seria um dia, uma tarde e uma noite interessantes.
Mas tudo fez querer que fosse um dia, uma tarde e uma noite desinteressantes.

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05.11.08

Folha Caída

1 comentário:

Mr Darcy disse...

hum... Das melhores formas de escrever... Decididamente a que mais gosto! Muito ao geito do “Quem sou eu?”... Adoro-te

Beijinho... Vou dormir que amanha alguém tem de trabalhar!!! :P